Ex-porta-voz da PJ Militar pediu para voltar a ser interrogado na posse de “documentação relevante”

Major Vasco Brazão diz ter entregado documento no Ministério da Defesa a dar conhecimento da operação de encobrimento da PJM do reaparecimento das armas de Tancos, em Outubro de 2017, na Chamusca. Será esse documento que quer entregar aos investigadores do Ministério Público.

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Armamento desapareceu de Tancos em Junho do ano passado e reapareceu três meses depois Miguel Manso

O major Vasco Brazão, um dos principais arguidos da Operação Húbris, já pediu para ser de novo ouvido pelo juiz de instrução do processo relativo ao envolvimento da Polícia Judiciária Militar (PJM) no reaparecimento das armas de Tancos e no encobrimento do autor do roubo, disse ao PÚBLICO o seu advogado Ricardo Sá Fernandes.

“Tendo em conta as notícias que têm vindo a ser publicadas, esclareço que já foi requerida nova tomada de declarações ao meu representado, altura em que este entregará às autoridades toda a documentação relevante que tem em seu poder, designadamente quanto àquilo que se reporta ao memorando que tem sido noticiado”, afirmou Ricardo Sá Fernandes.

Tal significa que o ex-porta-voz da PJM, Vasco Brazão, se prepara para disponibilizar ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) o memorando que diz ter entregado ao ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa, tenente-general Martins Pereira, numa reunião, também na presença do então director da PJM, coronel Luís Vieira, em Novembro de 2017, umas semanas depois da operação de recuperação das armas.

De acordo com a versão do major, este documento entregue ao tenente-general Martins Pereira continha a explicação de toda a operação de recuperação das armas, em Outubro de 2017, na Chamusca. Além disso, o chefe de gabinete terá telefonado ao ministro, na presença dos dois militares da PJM, para o informar do teor do memorando.

O DCIAP é o órgão do Ministério Público que investiga o desaparecimento das armas em Junho do ano passado e o seu reaparecimento três meses depois. Contactado, o gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República disse apenas que não havia "nada a acrescentar" às informações prestadas na semana passada. As informações dizem respeito aos comunicados que confirmaram as detenções para interrogatório e as medidas de coacção decididas pelo juiz de instrução.

Advogado de ex-director da PJM prepara recurso

Também contactado, o advogado do coronel Luís Vieira, ex-director da PJM, não comentou as notícias contraditórias sobre o seu interrogatório, dizendo que estava a preparar o recurso à prisão preventiva de Luís Vieira decretada pelo juiz.

Na semana passada, o tenente-general António Martins Pereira, numa declaração escrita, enviada por email à agência Lusa, confirmou que recebeu, em Novembro, no Ministério da Defesa, o major Vasco Brazão e o ex-director da PJM, coronel Luís Vieira, mas não faz menção a qualquer documento que teria sido entregue, e refere que, “nessa ocasião ou em qualquer outra”, não lhe “foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos”.

O processo encontra-se em segredo de justiça e tem nove arguidos. Dos nove, apenas dois ficaram em prisão preventiva: o coronel Luís Vieira, entretanto demitido do cargo de director da PJM, e o suspeito de roubar as armas. Além destes dois e do major Vasco Brazão, que ficou em prisão domiciliária, o processo tem ainda como arguidos constituídos três elementos da GNR (dois soldados e um sargento) e outros três da PJM.

No primeiro interrogatório, na semana passada, o major Vasco Brazão, ex-porta-voz e investigador da PJM, confessou a encenação da descoberta das armas e encobrimento do suspeito do roubo. Justificou a operação como única forma de as armas serem recuperadas.

A PJM tentaria recuperar igualmente a investigação criminal que começou por estar a seu cargo, mas passou, por decisão do DCIAP, a estar a cargo da Polícia Judiciária civil.

Na semana passada, o PÚBLICO noticiou que o coronel Luís Vieira confessou a encenação do reaparecimento das armasO Jornal de Notícias escreve na edição desta segunda-feira que o ex-director da PJM, o primeiro dos arguidos a ser detido para interrogatório pelo juiz de instrução do processo relativo ao aparecimento das armas de Tancos, terá negado qualquer envolvimento na encenação e que terá responsabilizado o major Vasco Brazão e um outro oficial que não é arguido no processo. De acordo com a notícia do JN, o director limitava-se a ser um gestor da PJM, sem intervenção directa no dia-a-dia das operações e investigações.

Assim sendo, a explicação para ter ficado em prisão preventiva terá sido o facto de o tribunal não ter acreditado na sua versão.

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