Mais de 600 hectares ardidos no incêndio da serra de Sintra

Fogo terá destruído área de cedros centenários, junto à Peninha, mas grande mancha florestal do Parque Natural de Sintra-Cascais escapou.

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Incêndio foi dado como dominado ao fim da manhã. LUSA/RODRIGO ANTUNES

Olhando para as imagens de satélite disponibilizadas pelo Sistema de Informação Europeu de Incêndios Florestais, Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), estima que arderam mais de 600 hectares no incêndio que começou este sábado à noite, junto ao Convento da Peninha, na serra de Sintra. 

O especialista diz que as imagens de satélite foram tiradas durante a madrugada, não sendo possível contabilizar o que ardeu depois. No entanto, Paulo Fernandes destaca que o fogo evoluiu para sul, para uma zona mais urbana, fora do Parque Natural de Sintra-Cascais, com pouca área florestal. 

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SISTEMA DE INFORMAÇÃO EUROPEU DE FOGOS FLORESTAIS

No parque, uma zona que integra a Rede Natura 2000, diz Paulo Fernandes, o incêndio terá destruído uma área de cedros centenários, junto à Peninha, além de áreas de arbustos, onde predomina o tojo e o zimbro. "Mas grande mancha florestal do Parque Natural de Sintra Cascais escapou", afirma. 

O professor da UTAD explica que este incêndio foi "um fogo de vento", já que as condições meteorológicas existentes eram bastante suaves. "A temperatura rondava os 20º e a humidade relativa estava entre os 50 e os 60%", nota. Além do vento, o fogo foi ajudado pela secura da vegetação. No entanto, sublinha Paulo Fernandes, tudo teria sido diferente, para pior, se o vento tivesse soprado de oeste. "Aí a serra tinha ardido toda", acredita. 

Apesar de o fogo ter sido dado como dominado ao fim da manhã, o professor universitário avisa que à tarde o vento vai voltar a soprar com mais intensidade, em direcção a sudoeste, o que põe a Quinta da Marinha na rota do fogo. "Mesmo que haja algum reacendimento, os campos de golfe existentes naquela área funcionam como zona de protecção", analisa. 

José Miguel Cardoso Pereira, investigador do Instituto Superior de Agronomia, concorda que a zona mais rica do parque natural não foi afectada, tendo o fogo atingido essencialmente matagais de carrasco e zimbro.

"É uma vegetação habituada ao fogo e com capacidade de recuperação", nota Cardoso Pereira. Alerta, contudo, para outro problema: a erosão e o aluimento de terras. "Devido à altura do ano em que nos encontramos, se houver chuvadas fortes tal pode ter impactos a nível da estabilidade dos solos", avisa. 

O Parque Natural de Sintra-Cascais tem sido uma das áreas protegidas menos fustigada pelos fogos nos últimos anos. Entre 2013 e 2017, arderam apenas 85 hectares nos mais de 14 mil hectares deste parque, segundo números do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas a que o PÚBLICO teve acesso. Nos últimos três anos a área ardida foi mesmo nula. E mesmo que recuemos a 2001, os dados dos últimos 17 anos mostram que arderam 1011 hectares naquele parque natural, dos 220 mil hectares que os fogos destruíram nas áreas protegidas.

Nem tudo, contudo, são boas notícias. Dois dos peritos espanhóis em protecção civil que estiveram esta Primavera a dar apoio técnico às autoridades portuguesas, concluíram que todas as casas existentes na área do Parque Natural de Sintra-Cascais estão em risco elevado ou muito elevado de incêndio.

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