Marcelo e PS estão numa relação que não implica troca de votos

Costa já disse que também não espera que Marcelo vote PS nas legislativas, apesar de se darem bem... Há socialistas a dizer que o partido não pode deixar de ter candidato da sua área. A questão é saber quem ousa ir a votos contra o actual Presidente.

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As relações entre Presidente da República e primeiro-ministro têm sido cordiais Pedro Nunes
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Marcelo e Costa contibuiram para tranquilizar o relacionamento institucional ao mais alto nível do Estado Pedro Nunes

António Costa não se quer comprometer com um eventual apoio do PS a uma possível recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa em 2021, para “não condicionar o exercício do mandato presidencial”. As boas relações institucionais entre Belém e São Bento poderiam culminar no apoio do partido de Costa ao Presidente, mas o PS não parece inclinado para essa solução.

Na recente entrevista à TVI, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS declarou sobre as presidenciais que “as pessoas podem ter boas relações profissionais, pessoais e trabalharem juntas e não votarem umas nas outras”. E afirmou: “Não dou por adquirido que o professor Marcelo Rebelo de Sousa, por se dar bem comigo, vote em mim nas próximas legislativas, uma coisa não condiciona a outra e cada decisão deve ser tomada a seu tempo”.

O PÚBLICO ouviu o PS para perceber como PS encara a possibilidade de apoiar uma eventual recandidatura de Marcelo. As opiniões divergem, embora todas destaquem as boas relações institucionais entre órgãos de soberania.

O deputado e presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Pedro Bacelar de Vasconcelos, afirma que as “relações institucionais têm sido excelentes, mas isso não significa que nas próximas presidenciais haja qualquer imperativo no sentido de o partido que suporta o Governo apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, quando ainda não é certo que se vá recandidatar”.

Bacelar de Vasconcelos sublinhou mesmo: “As presidenciais são um exercício distinto das legislativas - são candidaturas individuais e isso pesará na decisão que o PS vier a assumir nesta matéria”.

O dirigente nacional do PS Álvaro Beleza começa por dizer que, em tese, “os grandes partidos não deviam apoiar candidatos presidenciais”, mas revela que o “PS poderia ponderar a hipótese de apoiar Marcelo, caso não haja candidatos da área do PS”, considerando que, “se alguém ligado ao PS decidir avançar, o partido deve dar liberdade de voto”.

Em defesa de uma candidatura própria manifesta-se a deputada Isabel Moreira. “Não faria sentido o PS com o peso que tem e sendo um partido do centro-esquerda, que representa uma visão marcante da sociedade tão alargada, não ter um candidato próprio”, declara, reforçando a importância de “haver um candidato ou candidata da área do PS ou um independente” no qual os socialistas se possam “rever ideologicamente”.

Em 2016, Isabel Moreira apoiou Sampaio da Nóvoa, mas isso não significa que não tenha uma “opinião boa” sobre o actual Presidente. Porém, que, “do ponto de vista ideológico”, gosta de ter um candidato que a represente: “Isso é saudável para a democracia.”

No mesmo registo fala João Galamba. O deputado é favorável a uma candidatura de alguém próximo do PS, mas terá de ser um “candidato forte”. O ex-porta-voz do PS lembra que o “PS não propõe candidatos: apoia ou não candidatos, caso avancem”. E defende que “ainda falta bastante tempo para as presidenciais e que é um pouco difícil fazer prognósticos dessa natureza”.

“Candidatura contra Marcelo”

Quem considera esta discussão “prematura” é o antigo ministro João Cravinho. “Nesta altura, o enfoque deve colocar-se nas eleições do próximo ano. A questão do Presidente da República colocar-se-á a seguir, dependendo também do que se verificar em termos de consequências pós-eleitorais de Outubro de 2019”, afirmou.

“Não estou a dizer que as presidenciais são um não tema, não estou a dizer isso, estou a dizer que toda a nossa atenção tem que se concentrar nas eleições de 2019, europeias, legislativas e regionais”, precisa João Cravinho.

Cravinho é pragmático: “Não excluo que se possa, eventualmente, apoiar Marcelo. O que acho é que a discussão é prematura e desfocante em relação àquilo que, do ponto de vista do contacto com o eleitorado, é mais importante neste momento”.

E o que pensa Hugo Pires, deputado e membro da Comissão Permanente do PS? Cauteloso, Hugo Pires vai dizendo que ainda não se sabe se Marcelo se vai recandidatar ou não. Nem quem da área do PS quererá apresentar-se como candidato.

Hugo Pires elogia a “energia muito positiva” que “Marcelo trouxe à vida política portuguesa, quando comparado com o anterior Presidente da República”. O elogio é também extensivo a António Costa. “Os dois trouxeram uma nova forma de relacionamento e desanuviaram muito o clima tenso que havia na política, sobretudo, na forma como os portugueses olhavam para os políticos”, assume.

Elogios à parte, o dirigente socialista não põe completamente de lado a possibilidade de “haver alguém no PS que possa também trazer novas ideias, uma nova energia e queira apresentar-se como candidato à Presidência da República”. Fica o desafio.

Tendo em conta o “prestígio nacional e a conduta” do Presidente da República, o histórico militante socialista Vítor Ramalho considera que “será muitíssimo difícil alguém da área do PS sair vitorioso”. “Acho que não vai haver condições para uma candidatura apoiada por cidadãos que venha depois a ser apoiada pelo PS. Essa candidatura não terá vencimento, porque o prestígio do actual Presidente da República é muito grande”, vaticina Vítor Ramalho.

O socialista arrisca dizer que pode haver uma candidatura contra Marcelo “vinda da direita”. E explica que o que pode desencadear essa candidatura são as movimentações brutais que se estão a desenvolver dentro do PSD contra Rui Rio”. E conclui: “Não me admiraria que Pedro Passos Coelho possa ser o rosto dessa candidatura”.

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