A renovação portuguesa está no bom caminho
André Silva marcou o golo que valeu o triunfo frente à Itália, na estreia na Liga das Nações. Mas há outras boas notícias na selecção para além do resultado.
Com todos os bons sinais que Portugal tinha dado frente à Croácia, vice-campeã mundial, havia uma fraqueza identificada nesse jogo, a falta de capacidade para definir no ataque, uma falha directamente relacionada com a ausência de Cristiano Ronaldo. Na verdade, nesta segunda-feira, frente à Itália, esse pecado voltou a ser evidente, mas a dinâmica ofensiva foi bem interessante e os portugueses foram suficientemente eficazes para entrarem a ganhar na Liga das Nações, triunfando por 1-0 e assumindo o comando do Grupo 3 da Liga A.
André Silva foi o goleador de serviço num jogo em que a selecção portuguesa não só entrou a ganhar numa competição nova, mas também deu mais um passo para ir preparando um futuro sem Ronaldo (que ainda virá longe, mas irá acontecer) e com gente nova e rápida. O contrário acontece com a selecção italiana, e Roberto Mancini só tem resolvido o problema da baliza — Donarumma é o herdeiro de Buffon para a próxima década na baliza. Nas outras dez posições, falta muita coisa para esta “squadra azzurra” voltar aos melhores tempos, e isso não passa apenas pela recuperação de Balloteli.
Foi exactamente o mesmo “onze” que tinha entrado frente aos croatas na quinta-feira, um “onze” a puxar para a renovação, com uns toques de experiência (Patrício, Pepe, William) e com uma mobilidade e capacidade para jogar rápido como poucas vezes se viu no Mundial. E isso tem bastante a ver com a inclusão de jogadores como Rúben Neves, Bruma, Cancelo ou Bernardo Silva, rápidos na execução e na transição, faltando, talvez, a tal referência de ataque que será Cristiano Ronaldo — André Silva também é um avançado com rasgo e com golo, mas não se pode comparar com o novo número 7 da Juventus.
O primeiro sinal de perigo até veio da Itália, de um dos símbolos da renovação que Mancini tem forçosamente de fazer depois do fracasso que foi a qualificação falhada para o Mundial 2018. Logo aos 2’, Federico Chiesa, filho do ex-internacional Enrico Chiesa, ganhou uma disputa individual com Mário Rui e avançou junto à linha de fundo, mas o seu remate parou nas mãos de Patrício, que seria, aliás, pouco testado durante o jogo. Mas a selecção portuguesa rapidamente se recompôs e assumiu o controlo, chegando muitas vezes à área da Itália e justificando desde cedo a vantagem no jogo.
O golo acabou por não acontecer na primeira parte, a melhor fase de Portugal no jogo. William cabeceou ao lado aos 4’, Bernardo Silva não resolveu bem uma situação na área italiana após grande trabalho de Pizzi aos 14’, André Silva teve um bom remate aos 20’, Bernardo esteve perto de golo aos 27’ (um defesa italiano salvou em cima da linha), uma bola na trave aos 32’ num desvio involuntário de Cristante após investida de Mário Rui, um penálti que ficou por marcar após carga de Criscito sobre Pizzi, um remate de William de fora da área que não passou longe. Por tudo isto, os homens de Fernando Santos mereciam uma vantagem e não era só por um. Perigo italiano? Pouco mais que zero.
Depois de tantos ameaços na primeira parte, a segunda começou com o golo português. Bruma ganhou uma disputa de bola no meio-campo, acelerou até à área contrária e deixou a bola na perfeição para André Silva, em dois toques, inaugurar o marcador. Domínio com o pé direito a deixar a bola redonda para o pé esquerdo e a não dar hipóteses ao seu antigo colega no AC Milan.
Logo a seguir, Bernardo voltou a estar perto do golo, mas Donnarumma defendeu com classe.
Portugal não conseguiria manter o mesmo nível de intensidade durante a segunda parte, mas Itália não conseguiu aproveitar, mesmo com mais corpos no ataque, e até foi Portugal a cheirar mais um golo nos minutos finais, numa rápida jogada de Gelson que resultou num remate de Renato Sanches à figura de Donnarumma. Daria outra expressão a uma selecção em renovação, que está com vontade de crescer depressa e bem.