PCP disponível para governar, mas para fazer “outra política”
Jerónimo de Sousa diz que o PS sempre governou “à direita” e por isso recorre ao PSD e CDS para as “questões estruturais”. A “geringonça” valeu a pena apenas pela reposição dos rendimentos, assumiu em entrevista à RTP.
Jerónimo de Sousa não esperou pelos discursos da Festa do Avante! para marcar o arranque do ano político. Dois dias depois de o BE ter feito a sua rentrée e de todos os partidos parlamentares (à excepção do CDS) já terem dado o tiro de partida para o ano eleitoral, o líder do PCP foi à RTP1 afirmar que “o Governo minoritário do PS” sempre governou à direita. E, por isso, uma nova geringonça ou até mesmo a participação num futuro governo é possível apenas se for para fazer “outra política”.
Foi uma forma de se distanciar tanto do PS como do BE, depois de Catarina Martins ter afirmado no domingo que o Bloco está pronto para assumir “todas as responsabilidades”.
Questionado pelo jornalista Vítor Gonçalves sobre se o PCP estaria disponível para fazer parte de um futuro governo, Jerónimo de Sousa foi claro: “O PCP está em condições de assumir qualquer responsabilidade, mesmo governativa, mas é preciso saber: governar para quê e para quem? Para continuar a aceitar a submissão da política europeia e mais políticas de austeridade? Isso, o PCP não faz. Estamos disponíveis sim, mas para fazer uma política para resolver os problemas estruturais do país.
Jerónimo de Sousa elevou a fasquia mesmo para o cenário de repetição da “geringonça”: “Está a falar de soluções governativas e eu estou a falar de soluções políticas – do que é preciso fazer nos serviços públicos e para resolver os défices democrático, energético, alimentar”.
O problema, disse, é que o PS “com ou sem maioria absoluta, sempre governou à direita”. E mesmo nesta legislatura foi o que fez: “O PS em questões fundamentais converge com o PSD e o CDS”, apontou, dando como exemplos a solução para o Banif e as alterações ao código do trabalho.
“O PS sempre se tem caracterizado pela realização de uma política de direita. Além das questões estruturais, onde se encosta ao PSD e CDS, mesmo nas matérias onde se avançou o PS esteve renitente e até começou por recusar”, apontou. Foi o que aconteceu com o aumento extraordinário das pensões de reforma, afirmou: “O PCP esteve sozinho nesse combate durante muito tempo, depois o BE juntou-se e só mais tarde o Governo”. No domingo, Catarina Martins reivindicara o protagonismo nessa negociação.
Apesar de tudo, Jerónimo de Sousa considera que “valeu a pena” a convergência governativa destes três anos em matéria de reposição de rendimentos. E deixou claro que o apoio do PCP deverá ir até ao fim da legislatura. Questionado sobre se o conflito da contagem de tempo dos professores pode pôr em causa o voto no Orçamento para 2019, insistiu naquilo que tem dito: “Não, a nossa posição é mais geral. O problema nem devia existir, devia aplicar-se o que está em vigor. Mas não vai determinar [o voto], muitos são os sectores que recorrem ao PCP, não apenas os professores.”