Mais de 450 óbitos num só dia. É "normal" dadas as temperaturas extremas
O pior dia dos verões dos últimos dez anos aconteceu durante a onda de calor de 2013, quando 498 pessoas morreram. Afluência às urgências permaneceu normal durante o fim-de-semana, mas chamadas para o INEM aumentaram.
Este domingo foi um dos dias com mais óbitos registados nos últimos verões. A plataforma para a vigilância electrónica de mortalidade em tempo real (SICO/EVM) indica que, a 5 de Agosto, se registaram 460 mortes — os dados, ainda provisórios, foram consultados às 18h30 de segunda-feira. No sábado, o dia mais quente dos últimos 18 anos, contabilizaram-se 339 óbitos.
Graça Freitas, directora-geral da Saúde, garante que o número está em linha com anos em que se registaram condições meteorológicas semelhantes. Nomeadamente, a 8 de Agosto de 2003 — ano em que Portugal foi assolado por uma onda calor — quando se contabilizaram 464 óbitos e a 8 de Julho de 2013 (498).Este é um valor "normal para fenómenos de temperaturas extremas”, que “está dentro dos [intervalos de] valores para os últimos anos de muito calor”.
Mesmo assim, este é o segundo valor mais alto registado nos verões desde 2009 e está muito acima da média para os dias de Verão: 260 óbitos diários. E apenas comparando as mortes registadas este domingo e as de 5 de Agosto do ano passado verifica-se que as de 2018 são quase o dobro (mais 209 óbitos).
A directora-geral da Saúde lembra que os números apresentados se referem ao total das mortes registadas num dia e que não têm todas a ver com o calor. E sublinha que “não se trata de um excesso de mortalidade”. São “variações normais compensadas ao longo do ano”.
O impacto do calor na mortalidade nota-se particularmente na faixa etária com mais de 75 anos. Entre 4 e 5 de Agosto este grupo representava quase 80% do total de óbitos registados (em média, costumam representar cerca de 70%).
Mais chamadas de emergência
As chamadas para a emergência médica tiveram um "aumento substancial" nos últimos dias, tendo-se registado mais 20% de telefonemas para o 112, disse esta segunda-feira à Lusa fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Questionado sobre se houve um aumento de chamadas e se era possível relacioná-las com o calor intenso dos últimos dias, fonte oficial do INEM explicou que a procura dos serviços de emergência médica registou um aumento de 20% nas chamadas realizadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), "motivadas sobretudo pelo agravamento de situações de doença crónica".
Segundo o INEM, o aumento "muito substancial" do número de chamadas de emergência e a consequente activação de meios "justifica-se pela onda de calor verificada nos últimos dias".
Nas urgências hospitalares o calor extremo não provocou níveis de afluência fora do normal. O Centro Hospitalar de Lisboa Central adianta ao PÚBLICO que “a afluência às suas unidades de urgência regista valores normais para a época e semelhantes ao registado em período homólogo”. O mesmo referem o Centro Hospitalar do Porto, o Hospital de Portalegre e o Hospital de Évora.
A Administração Regional de Saúde do Norte reporta um “aumento ligeiro de procura, até por alguns episódios de sintomas de desidratação”. Já o Hospital de Santarém refere que “no fim-de-semana, foram recebidos, em média, 321 doentes na urgência (sobreponível ao esperado para a época do ano) havendo um ligeiro aumento de casos relacionados com a onda de calor (desidratação, diarreia, entre outros) dos quais se destacaram dois por diagnóstico de choque de calor".
Na Unidade Local de Saúde da Guarda, “verificou-se um ligeiro aumento da afluência ao serviço que teve a ver com a chegada de emigrantes durante este fim-de-semana”.
Maior capacidade assistencial
Em 1981, Portugal foi assolado por uma onda de calor que terá provocado cerca de 1900 mortos. No pior dia, registaram-se mais de 600 óbitos. É por isso que Paulo Nogueira, director de Serviços de Informação e Análise na DGS, diz que os valores provisórios para este domingo podem ser “boas notícias”. Quer dizer que se está a evoluir na mitigação do impacto destas condições meteorológicas extremas.
Graça Freitas também recorda essa “crise”. E lembra que “a capacidade de tratar as pessoas era diferente”. Hoje em dia, há mais idosos, mas também “melhorámos a capacidade assistencial”.
Mas para ter a noção dos verdadeiros impactos do calor, Paulo Nogueira avisa que ainda é preciso esperar “um ou dois dias”. “A maior mortalidade surge com algum atraso”, algo que se tornou ainda mais evidente nas décadas mais recentes, devido a uma maior capacidade de mitigar os efeitos destas condições meteorológicas. com Lusa