"Brexit": Livro Branco de May não convence diplomatas europeus
Diplomatas europeus repetem que não é possível dividir as quatro liberdades — de pessoas, bens, serviços e capital — em que assenta o mercado único e a união alfandegária.
Não foram só os membros da bancada eurocéptica do Parlamento de Londres que ficaram desapontados com o Livro Branco para a relação futura entre o Reino Unido e a União Europeia após o “Brexit”. As propostas da primeira-ministra Theresa May para um acordo de associação com a UE também desiludiram os diplomatas europeus que continuam a repetir que não é possível dividir as quatro liberdades — de pessoas, bens, serviços e capital — em que assenta o mercado único e a união alfandegária.
Theresa May propõe um acordo de associação que inclui uma zona de comércio livre, mas termina a livre circulação.
Na sua primeira reacção ao documento divulgado por Downing Street na quinta-feira, tanto o negociador-chefe da Comissão Europeia, Michel Barnier, como o porta-voz do comité do Parlamento Europeu para o “Brexit”, Guy Verhofstadt, preferiram saudar o facto de haver agora uma estratégia definida, do que comentar em concreto as ideias do Governo britânico para o relacionamento futuro entre os dois blocos.
Do lado das instituições, o Livro Branco foi recebido como uma “boa base” a ser trabalhada nas negociações futuras — por enquanto, as atenções ainda estão voltadas para a conclusão do acordo de saída do Reino Unido, em Março de 2019, e posterior período de transição até ao fim de 2020. Esse processo tem de ser fechado a tempo de ser aprovado pelos líderes na cimeira europeia de Outubro, mas há ainda um número significativo de assuntos por resolver, nomeadamente a questão da reposição da fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Um documento da UE enviado a todas as capitais esta semana alertava para a possibilidade de os dois lados não chegarem a acordo nessa data, o que poderá atirar o Reino Unido para o chamado “hard Brexit” (sem acordo) que Theresa May quer evitar. Mas as suas propostas para um “soft Brexit” continuam a ser aquilo que os diplomatas europeus rejeitaram como “cherry picking”, ou seja ficar só com aquilo que interessa a Londres.