Demissões como em São José vão repetir-se noutros hospitais, avisa bastonário

Os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central apresentaram na sexta-feira a demissão por considerarem que as condições da urgência do hospital de São José não têm níveis de segurança aceitáveis.

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Mário Lopes Pereira

O bastonário da Ordem dos Médicos afirma que demissões de chefias como aconteceram no hospital de São José vão repetir-se noutras unidades, indicando que a gravidade da situação relatada na urgência o levou a programar uma visita ao hospital. 

"A situação [no hospital de São José] espelha o que está a acontecer no país todo. As pessoas estão a trabalhar no limite (...). Isto vai acontecer noutros hospitais. Tenho notícia de que noutros grandes hospitais do país as coisas vão acontecer provavelmente até de forma mais grave", adianta o bastonário Miguel Guimarães em declarações à agência Lusa.

Os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central apresentaram na sexta-feira a demissão por considerarem que as condições da urgência do hospital de São José não têm níveis de segurança aceitáveis.

O representante dos médicos afirma não compreender a "negação permanente da realidade que o ministro da Saúde insiste em ter".

"Nós temos de dizer a verdade às pessoas. Não podemos andar a enganá-las", declarou.

Para o bastonário, a situação relatada pelos chefes de equipa demissionários do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) é de grande gravidade e, por isso, Miguel Guimarães vai visitar o hospital de São José na próxima semana, tentando reunir-se com chefes de equipa e também com a administração.

O bastonário está preocupado nomeadamente com os relatos de internos (médicos em formação) a fazer urgência sozinhos, sem apoio directo de médicos especialistas.

"Vou ter de saber que internos, de que especialidades, porque isto viola completamente as regras dos internatos médicos", indicou à Lusa.

Miguel Guimarães manifesta ainda preocupação pelas dificuldades relatadas pelos profissionais do São José na constituição de equipas de urgência e refere que o serviço só se tem "mantido à tona de água" porque muitos médicos com mais de 55 anos continuam a aceitar fazer urgência, quando a partir daquela idade estariam dispensados.

Também o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, manifesta "grande preocupação" com o que está a acontecer no Centro Hospitalar de Lisboa Central.

O responsável lembra que o hospital de São José é uma unidade "final de referência", que recebe doentes de vários pontos do país e de outras unidades.

"Quando os problemas que afectam os vários hospitais atingem a proporção e se repercutem no São José desta forma, a nossa preocupação é muito grande", sublinha Alexandre Valentim Lourenço.

O presidente da secção regional do sul da Ordem recorda que já tinha relatado "vários problemas" no hospital de São José, nomeadamente após uma visita que realizou em Maio, quando se soube da substituição de trabalho médico de radiologia por trabalho de telemedicina durante a noite.

"A administração está informada. Em Maio desvalorizou o problema. Não sabemos se a desvalorização vai persistir", lamenta Alexandre Valentim Lourenço.

Para o responsável, a administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central tem de assumir se consegue ou não fazer o seu trabalho de gestão e resolver os problemas e tirar ilações, pondo o lugar à disposição.

Quanto ao Ministério da Saúde, Alexandre Valentim Lourenço espera igualmente que tome "medidas importantes".

"Não podemos ter a urgência do São José sem chefes de equipa, invocando que a qualidade do serviço está em causa", concluiu.