Pompeo vai à Coreia do Norte entre dúvidas sobre empenho de Kim na desnuclearização
Depois do acordo vago da cimeira de Singapura, secretário de Estado norte-americano procura plano concreto de renúncia do regime ao armamento nuclear.
O secretário de Estado norte-americano tem programada uma visita à Coreia do Norte, a partir da próxima quinta-feira, para discutir com o regime um plano concreto de desnuclearização. A deslocação de Mike Pompeo a Pyongyang surge numa altura em que crescem as desconfianças sobre a vontade de Kim Jong-un em abdicar do seu material nuclear, como acordado na cimeira de 12 de Junho, com Donald Trump, em Singapura.
A viagem do chefe da diplomacia dos Estados Unidos foi confirmada na segunda-feira pela porta-voz da Casa Branca, Sarah H. Sanders, que se recusou, no entanto, a desmentir ou confirmar as notícias avançadas pelo Washington Post e pela NBC News – e baseadas em avaliações realizadas pelos serviços de espionagem norte-americanos – que davam conta da existência de instalações subterrâneas e secretas na Coreia do Norte, onde o regime esconde e produz armamento balístico e nuclear.
Segundo um relatório divulgado pelo Middlebury Institute of International Studies de Monterey (estado da Califórnia), haverá mesmo imagens de satélite que comprovam a expansão dessas instalações e a construção de novas infra-estruturas.
A Casa Branca limitou-se a dizer que Pompeo vai dar continuidade a um encontro realizado no passado domingo em Panmunjom – na zona desmilitarizada junto à fronteira entre as duas Coreias –, onde se debateram os próximos passos para a implementação da declaração conjunta saída da cimeira entre Kim e Trump. Nessa reunião estiveram presentes representantes norte-coreanos e uma delegação norte-americana liderada pelo embaixador dos EUA nas Filipinas, Sung Kim.
“Tivemos boas reuniões ontem [domingo] e o secretário de Estado vai lá estar [na Coreia do Norte] no final desta semana para continuar essas discussões”, informou Sanders, citada pela Reuters, sublinhando o optimismo da administração com “progressos” verificados na desnuclearização efectiva da Península da Coreia: “A actual conjuntura é óptima para uma mudança positiva e estamos a progredir em conjunto para negociações adicionais.”
O carácter vago do acordo assinado por Kim Jong-un e Donald Trump em Singapura, aliado aos resultados dos relatórios de espionagem norte-americanos, levantam, no entanto, muitas dúvidas sobre o verdadeiro empenho do líder norte-coreano em renunciar ao armamento nuclear. A visita de Pompeo à Coreia do Norte está, por isso, a ser entendida pela comunicação social dos EUA como uma forma de Washington pressionar o regime a avançar efectivamente para a desnuclearização, apresentando-lhe garantias – a começar pelos planos de encerramento dos seus reactores de enriquecimento de plutónio e das centrais de enriquecimento de urânio.
Citado pela Reuters, o director do Programa de Segurança Ásia-Pacífico do Center for a New American Security, Patrick Cronin, diz ter falado com representantes dos EUA e da Coreia do Sul, que lhe revelaram que Pompeo vai procurar um acordo com Pyongyang que estabeleça “um roteiro concreto de desnuclearização ou, pelo menos, um conjunto significativo de medidas de desmantelamento [das suas instalações], que possa fazer parte de um roteiro”.
E ao New York Times, o analista Hong Min, do Korea Institute for National Unification, afirmou que a delegação norte-americana procura um plano de desarmamento a ser implementado durante os próximos “seis a doze meses”.
Recorde-se que pouco depois de aterrar em Washington, vindo de Singapura, Trump declarou, via Twitter, que “já não existe uma ameaça nuclear vinda da Coreia do Norte”. Dez dias depois, aprovou, ainda assim, a renovação de sanções económicas ao regime de Kim.
Depois da visita à Coreia do Norte, Pompeo viajará, no sábado, até Tóquio (Japão), onde discutirá com japoneses e sul-coreanos os resultados das negociações.