Barcos com refugiados à deriva no Mediterrâneo com cimeira da UE em fundo
Itália avisou embarcações na costa líbia que pretendem dirigir-se aos seus portos: não peçam ajuda a Roma, falem com Trípoli. Negociações com Roma e Malta não surtiram quaisquer efeitos e impasse mantém-se.
Aos mais de 200 refugiados que o Lifeline, barco operado pela organização não-governamental alemã Mission Lifeline, resgatou na costa da Líbia, juntam-se outros 113 que foram salvos por um navio da empresa de transporte marítimo Maersk. Ambos estão num impasse depois de terem tentado atracar em Itália, que continua a tentar passar a bola a Malta, que, por sua vez, se recusa também a receber ambas as embarcações. Enquanto o nó não é desatado, a Guarda Costeira italiana enviou um aviso aos barcos que se aproximam da sua costa com refugiados resgatados: não contactem mais Roma. Falem com Trípoli.
É neste ambiente que decorre, este domingo, uma minicimeira informal em Bruxelas entre os países europeus mais afectados pelas migrações. A reunião prevê-se tensa com a abordagem dura relativamente à imigração do novo Governo italiano composto pelo Movimento 5 Estrelas de Luigi Di Maio e a Liga de Matteo Salvini. Itália exige há muito maior apoio europeu aos países costeiros que são a porta de entrada de milhares de refugiados. Deverá reivindicar o mesmo no encontro na capital belga.
Durante a noite de sexta-feira para sábado, intensificaram-se as conversações entre Itália, Malta e Espanha para resolver a questão das embarcações cheias de refugiados que estão agora à deriva e à espera de instruções sobre o seu destino final. Não existiu ainda qualquer conclusão.
O barco da Maersk dirigiu-se ao porto italiano de Pozzallo, na região da Sicília, mas rapidamente recebeu ordens para inverter a marcha. O mesmo aconteceu com o Lifeline, situação que gerou, durante todo o dia de sexta-feira, um pingue-pongue entre Roma e La Valletta, que culminou na rejeição formal deste último em receber a embarcação.
A mesma situação enfrentou o navio Aquarius na semana passada que, transportando mais de 600 refugiados, acabou por ser recebido em Valência.
Neste sábado soube-se também que a guarda costeira líbia recuperou os corpos de cinco migrantes na sua costa. Outros 185 foram resgatados com vida.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) avançou também que pelo menos 220 refugiados morreram só na última semana enquanto tentavam atravessar o mar Mediterrâneo para a Europa.
“A partir de agora, em concordância com a Convenção SOLAS (Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar) os capitães dos barcos que se encontram na área marítima da Líbia, terão de contactar o Centro de Trípoli e a guarda costeira da Líbia para pedir ajuda”, dizia a mensagem da guarda costeira italiana.
Por sua vez, a guarda costeira líbia garantiu que o caos em torno desta situação irá apenas aumentar o fluxo de migrantes que parte das suas costas: “Não é um alarme, é uma certeza”, referiu.
De acordo com o La Reppublica, Matteo Salvini, ministro do Interior italiano, vai à Líbia na segunda-feira, numa visita de apenas algumas horas. Oficialmente o tema do encontro será a recuperação económica da Líbia, que a Itália quer apoiar mas é previsível que em cima da mesa esteja a situação da imigração.
Este sábado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu em Paris o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez. Espanha salvou cerca de 600 imigrantes no Mediterâneo na madrugada de sábado.
Junto a Sanchez, Macron afirmou ser a favor da aplicações de sanções financeiras a Estados-membros da União Europeia que recusem migrantes com estatuto de asilo comprovado.