PSOE apresenta moção de censura contra Rajoy e Cidadãos pede eleições antecipadas
Moção é motivada pela condenação judicial de vários dirigentes do PP num caso de corrupção. Cidadãos pede eleições antecipadas. Sánchez diz que moção servirá para "constituir um Governo do PSOE". Rajoy resiste e critica socialistas.
Os socialistas espanhóis apresentaram esta sexta-feira uma moção de censura contra o presidente do Governo, Mariano Rajoy, na sequência das condenações de vários dirigentes do Partido Popular no mega-caso de corrupção "caso Gürtel".
O Cidadãos pediu a Rajoy que convoque eleições antecipadas "nas próximas semanas", indicando por isso que, para já, não apoia a moção apresentada pelos socialistas.
A intenção do PSOE foi anunciada na quinta-feira e a direcção do partido esteve reunida esta manhã. O líder dos socialistas, Pedro Sánchez, quer que Rajoy assuma responsabilidades políticas pelas condenações de várias personalidades da cúpula dos conservadores, incluindo o ex-tesoureiro Luis Bárcenas, condenado a mais de 33 anos de prisão.
Numa declaração aos jornalistas, o líder do PSOE, Pedro Sánchez, não deixou dúvidas e garantiu que a moção de censura tem como objectivo "constituir um Governo do PSOE" que irá, depois, marcar eleições. Rajoy reagiu mais tarde, afirmando que a moção assenta numa "falsidade" e que serve unicamente os propósitos políticos do líder socialista.
Afirmando que as condenações conhecidas nesta quinta-feira "não geraram apenas indignação mas também alarme social", Sánchez defendeu que esta situação "criou uma crise institucional e de confiança" que tem "um único responsável: Mariano Rajoy".
O líder socialista acusou o presidente do Governo e do PP de ter "olhado para o lado" e de não ter assumido quaisquer responsabilidades políticas durante os nove anos de julgamento e no momento em que foram conhecidas as sentenças. “O Partido Popular financiou-se irregularmente durante anos e o presidente do Governo não assumiu nenhuma responsabilidade política."
Sánchez elencou ainda os objectivos da moção de censura apresentada na manhã desta sexta-feira, referindo que a meta é “recuperar a dignidade” da democracia espanhola; “recuperar as regras do jogo que foram questionadas e violentadas por um partido que durante anos foi a eleições financiado irregularmente"; “defender a Constituição”; “recuperar a normalidade da nossa vida pública"; e “garantir a governabilidade do país”.
Mas, no fundo, a moção de censura tem como objectivo último “constituir um Governo do PSOE”. Sánchez aproveitou para começar a lançar as bases de um eventual executivo socialista, afirmando que terá “uma agenda social e que cumprirá a Constituição”. O socialista garantiu ainda que assim que subir ao poder irá marcar eleições antecipadas.
Apesar de ter desempenhado funções de direcção do PP durante praticamente as duas últimas décadas, Rajoy garantiu sempre não ter conhecimento da existência de uma contabilidade paralela para maquilhar as contas do partido.
Rajoy: moção serve apenas os interesse de Sánchez
Mariano Rajoy reagiu através de uma declaração no Palácio da Moncloa onde criticou a moção de censura apresentada pelo PSOE, garantindo que está baseada numa “falsidade” e que tem como único objectivo fazer com que Sánchez chegue ao poder “a qualquer preço e com quem quer que seja”.
Afirmando que a moção “prejudica a recuperação económica” de Espanha e que causa “muita incerteza”, Rajoy disse que a medida fez-se “no único interesse de Sánchez, que perdeu as eleições em 2015 e 2016” e deixou o PSOE com o número de deputados mais reduzido da sua história.
“A moção procura apenas que Sánchez seja presidente a qualquer preço e com quem quer que seja”, atirou ainda o chefe do Governo espanhol. Referindo as opções que os socialistas têm para fazer aprovar a moção no Parlamento, Rajoy lembrou que o PSOE poderá ter de se juntar aos partidos regionais nacionalistas e independentistas com representação parlamentar. “Mas a ele dá-lhe igual”, reiterou. "Qualquer dia vemo-lo a fazer um pacto com Puigdemont".
O primeiro-ministro disse ainda que a moção assenta em “mentiras” pois vai ser apresentado um recurso das sentenças, pelo que o processo não foi ainda transitado em julgado. Rajoy argumenta que “não foi condenado nenhum membro do Governo e nenhum foi julgado”.
“Nenhum membro do Governo teve alguma coisa a ver com o que aconteceu”, disse. Sobre o facto de o próprio partido ter sido condenado, Rajoy afirmou que a condenação se deveu à “responsabilidade civil e não penal do PP”. “Porque o partido não conhecia os factos”, explicou.
O início desta crise levou Rajoy a cancelar a viagem à capital ucraniana de Kiev, marcada para sábado, para assistir à final da Liga dos Campeões entre o Real Madrid e o Liverpool.
A viabilidade da moção de censura dos socialistas é ainda incerta. Para que seja aprovada é necessário o voto favorável de pelo menos 176 deputados, mas, de acordo com o El País, para além do PSOE (84 deputados) apenas o Unidos Podemos (67) revelou disponibilidade para apoiar o derrube de Rajoy, o que faz um total de 151 votos.
A proposta do Cidadãos tem também dois destinatários. É que, com uma moção de censura em cima da mesa, Rajoy é impedido pela Constituição de marcar eleições antecipadas. Para o fazer, os socialistas teriam de retirar a moção apresentada.