Costa apresentou Pinho a Sócrates num camarote do Euro 2004

Numa entrevista por escrito ao Expresso, o antigo ministro do PS fala desta e de outras relações pessoais, como a que tem com António Mexia, padrinho de uma das suas filhas. Mas voltou a recusar falar do saco azul do GES, que só está disposto a esclarecer após ser ouvido pelo Ministério Público.

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Manuel Pinho IVO PIRES

Campeonato da Europa de futebol de 2004, Estádio da Luz, camarote do Banco Espírito Santo (BES). Foi aí que o antigo ministro da Economia do PS Manuel Pinho conheceu o homem que viria a convidá-lo para um lugar no Governo, José Sócrates. O encontro foi mediado por outro socialista, o actual primeiro-ministro.

“Foi António Costa quem nos apresentou”, conta Pinho numa entrevista ao Expresso publicada neste sábado. O actual primeiro-ministro assistiu ao jogo na Luz com Pinho no camarote do banco. “Ele apresentou-me à saída José Sócrates”, prossegue.

Na entrevista, Manuel Pinho não fala da forma como surgiu o convite para integrar o Governo de José Sócrates, mas recorda como a relação entre ambos se intensificou na altura da crise financeira internacional de 2008. Sócrates, diz o antigo ministro da Economia, “sempre teve grande preocupação no apoio às empresas” e nessa altura, em vez de quatro vezes por dia, falavam “14”: “Parecia mesmo que o mundo ia acabar, foi o pânico total”.

José Sócrates e António Costa são duas das pessoas de quem Pinho fala numa entrevista de 16 questões, a que respondeu por escrito. Entre as suas relações pessoais está o presidente da EDP, António Mexia. Conheceram-se “antes de termos trabalhado” no BES Investimento “e mesmo antes de ambos darmos aulas na Universidade Católica nos anos 80”, conta.

O homem-forte da eléctrica é padrinho da filha mais nova de Manuel Pinho. “Depois cada um seguiu a vida para seu lado”, diz. Mas as suas vidas cruzaram-se mais do que uma vez.

António Mexia estava no BES Investimento quando Pinho era vice-presidente com funções não-executivas e liderava “a maior empresa em que o Estado era accionista” quando Pinho era ministro da Economia. “Num sector em grande transformação, era natural vir muitas vezes ao ministério”, defende.

Manuel Pinho, que deixou de ser arguido no caso EDP devido a irregularidades no processo, defende-se depois das suspeitas de favorecimento da EDP por exemplo, com os custos para a manutenção do equilíbrio contratual (CMEC) – que deram 2500 milhões de euros à empresa em dez anos.   

“Os CMEC são uma questão técnica que vinha dos anteriores governos e que não era para ser tratada ao nível de um ministro ou de um presidente de empresa”, garante nesta entrevista. “Podia facilmente demonstrar aqui por A+B que os CMEC não são o principal responsável por os preços da eletricidade serem tão altos”, diz ainda o antigo minsistro.

Não o faz, todavia : “É melhor deixar isso para a comissão de inquérito, onde tudo vai ser esclarecido”. O ex-ministro socialista também não fala sobre o caso GES – e os 3,5 milhões de euros que terá recebido do “saco azul” do grupo.

Manuel Pinho refere-se, porém, a várias pessoas ligadas ao grupo. De Ricardo Salgado, a quem “não confirma” ter classificado como “traidor” – “Nem estou a ver o quadro em que tal possa ter acontecido”, acrescenta – a Álvaro Sobrinho e Hélder Bataglia com quem se “cruzou” no BES. Só terá tido “uma reunião de administração” com o primeiro e “nenhuma” com o segundo, afirma.

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