Quase cinco meses depois, a Catalunha já tem novo president
O parlamento autonómico acaba de investir Quim Torra como presidente nº 131 da Generalitat, abrindo caminho ao fim da intervenção de Madrid na região.
Candidatos houve muitos, mas só um até agora tinha chegado a tentar ser eleito (Jordi Turull, membro da coligação do líder deposto, Carles Puigdemont, Juntos pela Catalunha, foi preso entre a primeira tentativa e a segunda votação, em Março).
Quim Torra foi o segundo deputado catalão saído das eleições de Dezembro a apresentar perante os restantes parlamentares o seu programa – foi eleito com 66 votos a favor (JxCat e ERC), 65 contra (Cidadãos, PP, PSC e os comuns) e quatro abstenções, as dos deputados independentistas e de esquerda da CUP.
Quase cinco meses depois da votação dos catalães, a 22 de Dezembro, numas eleições marcadas por Mariano Rajoy, e sete meses depois de este ter assumido a governação da região, aplicando pela primeira vez um artigo da Constituição (155) que permite a Madrid suspender e dissolver as instituições eleitas numa comunidade, os catalães vão voltar a ter um governo composto por pessoas que elegeram.
O 155 deixa de estar em vigor quando Torra e o governo que este nomear tomarem posse. Para isso ainda é preciso que o rei Felipe VI aprove a sua nomeação; em seguida, Madrid, que avisa que vigiará de perto o novo president, terá de transferir o poder de volta às instituições catalãs.
É o princípio do regresso a alguma normalidade, mas não o fim do processo: para além dos dirigentes presos e dos que saíram do país para evitar a cadeia, que os partidos independentistas consideram “presos políticos” ou exilados, o próprio Torra é tão ou mais independentista do que Puigdemont ou Oriol Junqueras (o vice do executivo deposto, líder da Esquerda Republicana da Catalunha e detido há meses).
“Fazer república”
Torra agradeceu a generosidade e responsabilidade de Puigdemont. “Acabaremos por investi-lo”, disse, ecoando que deputados da JxCAT e até da ERC prometem desde as eleições (o C´s, liderado Inés Arrimadas foi o partido mais votado, mas as duas forças independentistas repetiram a maioria e a coligação formada a partido de Bruxelas pelo ex-líder foi a mais votada). Depois, dirigindo-se aos eleitos da ERC, assegurou que vão “trabalhar bem” em conjunto, pois têm “o mesmo objectivo, fazer república”. Isto num discurso que fez questão de terminar com o grito, em catalão, “Viva a Catalunha Livre”.
E insistindo na abertura ao diálogo com Madrid que todos os candidatos a líderes ou dirigentes mais importantes do campo independentista fazem sempre que o momento o justifica, Torra assegurou que basta uma chamada de Rajoy para que possam encontrar de imediato.
Ao contrário dos primeiros candidatos que os independentistas tentaram ver investidos – Carles Puigdemont, Jordi Sànchez e o ex-conselheiro (ministro) Jordi Turull, Torra não está a ser investigado por causa do referendo de 1 de Outubro ou da posterior declaração de independência. Nem tribunais nem a Moncloa (sede do Governo) colocaram quaisquer objecções ao seu nome.
Espera-se por isso que o rei assine a nomeação de Torra e Rajoy transfira os poderes para a Catalunha numa questão de dias.