A esquerda francesa quer fazer uma festa ao “Presidente dos ricos”

Paris acolhe no sábado uma manifestação para assinalar o aniversário da tomada de posse de Macron, dias depois dos violentos confrontos do Dia do Trabalhador.

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Emmanuel Macron está na mira da esquerda e dos sindicatos Philippe Wojazer/REUTERS

Emmanuel Macron está prestes a assinalar o primeiro aniversário na presidência e as ruas de Paris fazem questão de o recordar. Mas não pelos melhores motivos. Furiosa com a sucessão de reformas que dizem pôr em causa os direitos adquiridos pelas lutas sociais, a esquerda convocou uma acção de protesto para este sábado.

O lema é insidioso – “fazer a festa a Macron” (faire la fête à Macron) – e tem gerado um debate aceso acerca do seu significado. “Na linguagem popular, ‘fazer a festa’ a alguém pode ter um duplo significado, há um lado simpático e festivo e depois há um lado mais violento”, disse o porta-voz da presidência, Benjamin Griveaux.

Do lado dos organizadores, há a garantia de que tudo irá decorrer de forma pacífica. “Tem-se falado de festa, de stands, de piqueniques”, explicou Benoît Hamon, o ex-candidato presidencial socialista que fundou um novo movimento, o Generation.s, que é um dos organizadores da manifestação deste sábado.

A capital francesa está em alerta depois dos distúrbios que ensombraram a marcha do Dia do Trabalhador, na terça-feira. Cerca de 1200 elementos conotados com os Black Block, um grupo anarquista, infiltraram-se na marcha dos sindicatos que percorria o centro de Paris, enquanto destruíam montras de lojas e incendiavam carros. Foram detidas 200 pessoas, e estava lançada a polémica na política francesa.

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Protestos tornaram-se violentos no 1º Maio em Paris Philippe Wojazer/REUTERS

De viagem pela Austrália e pelas ilhas do Pacífico, Macron culpou os “dirigentes políticos que fazem o papel de pirómanos em permanência”. O líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, acusou o toque e negou qualquer responsabilidade. “Macron sabe muito bem que estou em desacordo absoluto com os métodos que foram utilizados por esses grupos violentos”, afirmou. Mais tarde, acrescentou que “partir uma vitrina de um McDonalds não é um acto revolucionário”.

O ex-candidato presidencial teve ainda de corrigir as suas declarações, proferidas logo no domingo, de que os autores dos actos violentos pertenciam a círculos da extrema-direita.

“Macron dos Bosques”

É neste ambiente altamente carregado que Paris se prepara para uma nova manifestação de descontentamento contra as políticas de Macron, a quem a esquerda já colou o epíteto de “Presidente dos ricos”. O rol de queixas é tão grande que é difícil saber por onde começar.

A reforma do Código do Trabalho, aprovada em Setembro, foi a primeira batalha de Macron com os sindicatos e com a rua. As medidas mais polémicas são a imposição de um limite para as indemnizações atribuídas em caso de despedimento sem justa causa, a facilitação em alterar várias condições dos contratos (tempo de trabalho, salário) em nome da “competitividade” da empresa ou a flexibilização dos despedimentos nas multinacionais que operem em França.

Mais recentemente a reforma da empresa pública de caminhos-de-ferro (SNCF) deu origem a um grande movimento de greves, com os trabalhadores a protestarem contra a intenção governamental de transformar a empresa numa sociedade anónima. Outra medida contestada é a abolição da chamada “exit tax”, um imposto que vigora desde 2011 e que abrangia os cidadãos que pretendessem mudar a sua residência fiscal para o estrangeiro, com o claro objectivo de dissuadir a evasão fiscal.

As críticas não se esgotam na economia. Esta semana o Le Monde começou a divulgar uma investigação às contas da campanha de Macron que deixa várias interrogações sobre a data real de início da recolha de fundos – nomeadamente se Macron teria começado a fazer campanha ainda enquanto ministro de François Hollande. Em foco está uma recepção ao então ministro da Economia em Lyon, em Junho de 2016, que a oposição local diz ter tido um forte pendor eleitoralista.

À luz de tudo isto não é de estranhar a capa da mais recente edição da revista Forbes – publicada precisamente a 1 de Maio –, em que aparece um sorridente Macron baptizado “líder do mercado livre”.

O deputado da França Insubmissa François Ruffin tem uma descrição menos subtil: “Macron é um Robin dos Bosques ao contrário, ele tira aos pobres para dar aos ricos.”

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