Depois de Macron, foi a vez de Merkel sair da Casa Branca sem promessas

Reunião entre a chanceler alemã e o Presidente norte-americano não fez mexer as agulhas dos temas mais importantes. Trump quer uma "relação recíproca" com a Alemanha.

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Angela Merkel foi recebida com um beijo à chegada à Casa Branca JIM LO SCALZO/EPA

Na semana em que meio mundo se perdeu de amores pelas manifestações de carinho entre Emmanuel Macron e Donald Trump, a visita da chanceler alemã à Casa Branca, esta sexta-feira, seria sempre um teste difícil no jogo das aparências – na última vez que Merkel esteve na Sala Oval, o batalhão de fotógrafos não teve oportunidade para registar nem sequer um protocolar aperto de mão.

Talvez por isso, desta vez o Presidente norte-americano fez questão de elogiar a chanceler alemã e de a cumprimentar com um caloroso aperto de mão, enquanto lhe dava os "parabéns formais" pela vitória nas eleições de Setembro do ano passado.

Mas a verdade é que esta primeira visita de Angela Merkel fora da Europa após a entrada em funções do seu novo governo era tudo menos um momento indicado para demonstrações de afecto – em cima da mesa estiveram temas complicados, que têm mantido Trump e Merkel mais afastados do que é normal nas relações entre os responsáveis dos dois países nas últimas décadas.

No final do encontro, numa conferência de imprensa com perguntas sobre todos os temas que Trump e Merkel tinham acabado de discutir, não houve nenhum anúncio sensacional – a quase tudo, Merkel respondeu que "a decisão é da competência do Presidente".

Questionada sobre se tinha recebido alguma promessa em relação ao aumento das taxas sobre as importações de alumínio e o aço pelos EUA, a chanceler alemã limitou-se a confirmar que o assunto foi discutido, mas que "a decisão cabe aos Estados Unidos". Trata-se de saber se a Casa Branca irá deixar cair o aumento dessas taxas sobre as importações a partir da Europa – a decisão será anunciada na próxima terça-feira, e teme-se que a entrada em vigor desse aumento possa culminar numa guerra comercial entre os EUA e a Europa.

Merkel foi um pouco mais longe nas respostas sobre o acordo com o Irão, mesmo sem haver a mínima indicação de que Trump irá deixar de agitar esse acordo no ar como exemplo de um processo moribundo. "O acordo é tudo menos perfeito. É uma pedra sobre a qual podemos construir um edifício", disse a chanceler alemã.

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Desta vez, houve um claro aperto de mão entre os dois líderes mundiais MICHAEL REYNOLDS/EPA

Ainda assim, alertou para a urgência de se resolver a questão e deixou um recado ao Presidente norte-americano, ao notar a proximidade geográfica entre a Alemanha e países como o Irão e a Síria, por oposição à distância dessa zona do mundo em relação aos EUA: "A Síria e o Irão estão às nossas portas."

Tal como Emmanuel Macron no início da semana, Angela Merkel falou com Donald Trump sobre outra data importante que se aproxima – até ao dia 12 de Maio, os EUA terão de anunciar se mantêm a suspensão das sanções contra o Irão; se isso não acontecer, o acordo sobre o programa nuclear iraniano sofrerá um golpe profundo, que será fatal se os EUA acabarem por abandoná-lo.

As declarações mais reveladoras sobre o estado actual das relações entre os EUA e a Alemanha foram feitas em resposta a perguntas sobre a NATO – mais precisamente sobre o valor do cheque que Berlim passa à organização transatlântica.

A conta da NATO

Angela Merkel pegou na questão da NATO dizendo que a Alemanha já está a aumentar a sua contribuição, "talvez não tão depressa como o Presidente Trump gostaria", mas foi mais longe, falando sobre "o fim do período pós-guerra".

"Não podemos continuar a depender da América para nos vir ajudar. A América ainda nos ajuda, mas temos de reforçar a nossa defesa. Estamos a amadurecer, a crescer. Este período pós-guerra está a chegar ao fim. A Alemanha tem de assumir mais responsabilidades. Temos de aprender a assumir o nosso papel", disse a chanceler alemã.

Para Trump, tudo se resolverá com uma "relação recíproca" – leia-se, o défice comercial com a Alemanha tem de ser reduzido e a Alemanha tem de pagar mais para a NATO. Nada que seja culpa de Berlim, nem dos seus sucessivos governos nas últimas décadas, disse Trump. Para o Presidente norte-americano, os culpados estão em casa – leia-se, Barack Obama, George W. Bush, Bill Clinton: "Não responsabilizo a União Europeia nem a Alemanha. Responsabilizo as pessoas que me antecederam. Elas não deveriam ter permitido que isto acontecesse."

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