A luta contra xenofobias e populismos é “guerra sem fim e sem quartel”
O Presidente da República considerou nesta quinta-feira que a luta contra as xenofobias e os populismos "é uma guerra sem fim e sem quartel" e manifestou-se surpreendido com a "simplificação do discurso" de alguns responsáveis internacionais.
Marcelo Rebelo de Sousa falava em Lisboa, na abertura de um ciclo de conferências intitulado Diálogos com o Mosteiro dos Jerónimos, durante a qual respondeu a perguntas, após um discurso inicial em que sustentou que a vocação nacional e a mais-valia de Portugal é ser "plataforma entre culturas, continentes, oceanos e civilizações".
"Essa mais-valia tem de ser defendida todos os dias, contra aqueles que pregam naturezas puras que nunca existiram, ressuscitam xenofobias e racismos e populismos, na forma ou no conteúdo, ou fechamentos egoístas e exclusivos. É uma guerra sem fim e sem quartel", considerou, reforçando uma mensagem que tem repetido em várias intervenções públicas.
Mais à frente, o chefe de Estado retomou o tema dos populismos, em resposta a uma questão sobre a velocidade dos acontecimentos na actualidade.
O Presidente da República concordou que existe uma "aceleração do tempo político" e apontou esse factor como "um problema real", porque "facilita uma comunicação mais básica e mais primária" e "convida, muitas vezes, a decisões menos amadurecidas, menos ponderadas", além de provocar "o empobrecimento no domínio do debate das ideias" e "o discurso simplista".
"Dir-se-á: isso também tem a ver com os novos meios de comunicação. Tem, que são mais rápidos, são mais condensados e são mais pobres", acrescentou.
"Onde poderemos ir parar?", questionou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, é complexo e difícil definir a fronteira "entre aquilo que pode ser acessível em termos populares e aquilo que já é populista - não na parte do conteúdo, mas na forma".
A este propósito, contou que, no exercício de funções presidenciais, "no contacto com responsáveis internacionais", que não nomeou, tem sido surpreendido "pela concentração do vocabulário utilizado, pela sobre-simplificação do discurso e, portanto, e pela adesão a um tempo muito acelerado".
"Não estou a falar daqueles de quem se esperaria isso, não, de outros de quem não se esperaria", adiantou.
O Presidente mencionou, como exemplo, que "num país propenso ao racionalismo foi possível um responsável apresentar numa academia importante 100 propostas para a valorização da língua", que admitiu não serem "100 propostas para valorizar a sério", mas apenas "10 ou 15 ou 20" de entre elas.