Acusado de matar homem à porta de discoteca remete-se ao silêncio em julgamento
Arguido terá disparado sobre vítima de 30 anos após discussão. Apenas um dos quatro arguidos prestou declarações.
Num Tribunal de Coimbra com dispositivo de segurança reforçado, o jovem de 22 anos acusado de matar um homem de 30 anos à porta de uma discoteca da cidade remeteu-se esta terça-feira ao silêncio no início do julgamento.
O jovem está acusado dos crimes de homicídio qualificado, detenção de arma ilegal e ofensa à integridade física qualifica, na sequência dos desacatos que, no dia 8 de Janeiro de 2017, viriam a provocar a morte a Ismael Soares, que foi atingido com tiros na cabeça, no tórax, no abdómen e nas pernas.
No processo há mais três arguidos: a namorada do suspeito, que terá estado na origem do desentendimento, o homem de 29 anos que terá cedido a arma de fogo e o padrasto do suspeito, que terá ajudado o alegado autor dos disparos e a namorada na fuga para Espanha, onde foram capturados no dia 21 do mesmo mês. Segundo o Ministério Público, terão sido 14 os disparos efectuados.
A namorada do suspeito, de 23 anos, foi a única a responder às questões do colectivo de juízes e dos advogados e admitiu que se envolveu numa discussão com a gerente do Avenue Club, na Avenida Afonso Henriques. Os restantes remeteram-se ao silêncio. A jovem, que está acusada de ofensa à integridade física qualificada e de detenção de arma proibida, admitiu ter agredido a responsável pelo espaço de diversão nocturna. “Dei um murro com a soqueira que estava na minha jaqueta”, afirma. Todavia garante que foi abordada de forma agressiva e insultada e que a gerente estava alcoolizada.
Agressões e álcool
De acordo com a versão da arguida, trocaram empurrões e, depois de receber um pontapé na virilha, ripostou com a soqueira, que, diz, tinha encontrado no carro do amigo que acompanhava o casal naquela noite. “Não era intenção usar. Foi por impulso”, referiu, confessando que também estava alcoolizada. A arma foi-lhe retirada por Ismael Soares e houve também troca de agressões.
De seguida, o suspeito do homicídio e a namorada retiraram-se do local no Seat Toledo conduzido pelo amigo. Regressariam por volta das 7h40. Sobre a parte da madrugada em que os três terão ido a casa de um outro amigo buscar a arma do crime, a arguida diz não se lembrar devido aos calmantes que tinha tomado. “Só me lembro de ter entrado no carro”.
Para além de vários inspectores da Polícia Judiciária, testemunharam ainda o condutor do carro e a namorada da vítima mortal, que foi também baleada num pé. Segundo a acusação do Ministério Público, quando os três regressaram ao Avenue Club, Ismael ter-se-á aproximado da viatura e foi aí que foi baleado. O autor dos disparos voltou, tendo sido interpelado pela namorada da vítima que “implorou que não disparasse” mais. O arguido, “ignorando o tal apelo, executou a vítima com vários disparos”, escreve o MP.
O condutor do veículo não foi constituído arguido porque, acredita a acusação, terá sido coagido pelo autor dos disparos, mas testemunhou por videoconferência a partir do Brasil. O homem referiu que foi ameaçado pelo seu amigo para conduzir de volta ao local depois dos primeiros disparos. Assegurou também que não tinha nenhuma soqueira no carro.
Por sua vez, a namorada da vítima contou emocionada que, depois de pedir ao principal arguido para não premir novamente o gatilho, este lhe terá respondido que era “para ele aprender a não humilhar as pessoas”, disparando mais uma vez em direcção à cabeça de Ismael, que jazia já no chão. Antes de Elida entrar na sala, o acusado de homicídio e a namorada foram retirados.
Apesar de ter circulado informação nesse sentido, um dos inspectores da PJ que testemunhou negou que a vítima fosse segurança da discoteca, mas antes uma pessoa “que ajudava a apaziguar conflitos”.