França na linha da frente do esforço para salvar acordo sobre o nuclear
ONU, Rússia e China também repetem apoio ao acordo. EUA ameaçam rompê-lo.
Nos Estados Unidos, Emmanuel Macron está a assumir-se como a cara europeia da defesa do acordo nuclear com o Irão, sendo o primeiro a abordar pessoalmente o Presidente norte-americano, Donald Trump, para que não rompa unilateralmente com o acordo, durante uma visita à Casa Branca – a que se seguirá outra visita de trabalho da chanceler alemã, Angela Merkel.
"É um trabalho de equipa", envolvendo especialmente França, Alemanha e Reino Unido, comentava na Bloomberg Barbara Slavin, directora da Future of Iran Initiative do centro de estudos Atlantic Council. Uma equipa em que o Presidente francês é o principal. "Macron é com quem há a melhor hipótese" junto de Trump, diz, sublinhando que, dos três, é o líder que o Presidente dos EUA admira e em quem mais confia.
O Irão, por outro lado, tem subido os avisos, dizendo que “não vai ser agradável” se acordo nuclear for rompido, nas palavras do seu chefe da diplomacia, confirmadas pelo Presidente Hassan Rohani que disse esta segunda-feira que "o Governo iraniano vai reagir com firmeza" a uma retirada americana do acordo e que os EUA "vão sofrer sérias consequências".
Uma das potenciais acções iranianas é o "aceleramento" do seu programa nuclear, e o rompimento com os restantes signatários. Apesar de o esforço ter sido visto como liderado pelos EUA, o acordo inclui ainda a União Europeia, a China e a Rússia e está consagrado numa resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
No domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Moahmmad Javad Zarif, esteve em Nova Iorque, onde também se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Zarif acusou os EUA de estarem a trabalhar para destruir o acordo ao fazer tudo ao seu alcance para que o país não beneficie de mais investimento estrangeiro e mais interacção económica. Ao manter a dúvida permanente sobre se o acordo é para manter, diminuem a apetência dos investidores. Os EUA de estão assim em incumprimento do acordo “nos últimos 15 meses”, declarou Zarif.
"Coelho da cartola"
Uma fonte da Administração Trump disse à CNN que a decisão de sair do acordo estava já praticamente tomada, excepto se os europeus conseguissem obter algumas concessões do Irão.
Um perito norte-americano de não-proliferação, Christopher Ford, classificou o Irão como “perigosamente perto” de conseguir transformar o seu programa nuclear pacífico num programa militar chegando a uma arma atómica, citando.
Os americanos estavam cépticos: uma fonte disse à CNN que Macron teria de “tirar um coelho da cartola”. Junto com Trump, o Presidente francês apresentou esta terça-feira uma série de exigências para limitar actividades nucleares e do programa de mísseis balísticos do Irão.
Ainda na semana passada, mais de 500 deputados de França, Alemanha e Reino Unido pediram aos congressistas americanos para ajudar a salvar o acordo. “O impacto imediato [do fim do acordo] seria pôr fim ao controlo ao programa nuclear iraniano, o que daria uma nova fonte de conflito devastador no Médio Oriente e para além da região”, argumentaram.
O Irão está cada vez mais presente na guerra na Síria, onde apoia o regime de Bashar al-Assad, com militares no terreno. Ocasionais ataques israelitas têm alvejado forças iranianas e do seu aliado libanês, o Hezbollah, na Síria.
“Ainda que partilhemos as preocupações expressas por muitos quanto ao comportamento do Irão, estamos convencidos de que estas questões devem ser tratadas separadamente”, dizia a carta aberta dos deputados, citada no Guardian.
Mais, “sair do acordo diminuiria o valor de todas as promessas e ameaças feitas pelos nossos países”.
O acordo, sublinhou no final de uma conferência sobre não-proliferação a alta representante da ONU para o desarmamento, Izumi Nakamitsu, “mantém-se a melhor forma de assegurar a natureza exclusivamente pacífica do programa iraniano e concretizar os benefícios económicos tangíveis para o povo iraniano”, declarou, citada pela Reuters.