Kim suspende testes nucleares e balísticos a partir deste sábado
Pyongyang vai encerrar local de ensaios por já ter completado o seu programa nuclear. Gesto recebido com agrado pelos EUA e aliados, ainda que não dê indicação de que a Coreia do Norte vai abdicar das armas que possui.
A Coreia do Norte vai suspender os testes nucleares e de mísseis balísticos intercontinentais e irá desmantelar as instalações nucleares de Pyunggye-ri, no Norte do país, “a partir do dia 21 de Abril”, anunciou Pyongyang através da KCNA – a agência de notícias oficial do regime. Apesar de a decisão não manifestar uma vontade expressa de Kim Jong-un de se desfazer das armas nucleares que já tem, Donald Trump e os países aliados dos norte-americanos na região mostraram-se satisfeitos.
“Isto são óptimas notícias para a Coreia do Norte e para o mundo – grande progresso! Estou ansioso pelo nosso encontro”, escreveu o Presidente dos Estados Unidos no Twitter, fazendo referência à reunião que, por sua iniciativa, pode juntar um líder da Coreia do Norte e um chefe de Estado norte-americano à mesma mesa pela primeira vez na história.
Num comunicado, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Federica Mogherini, viu na decisão norte-coreana um “positivo e há muito procurado passo”, que espera ser decisivo para a “desnuclearização irreversível” da na Coreia do Norte. Na mesma linha, o Governo britânico torce para que esta suspensão permita uma “negociação em boa-fé”.
Já na vizinha Coreia do Sul, um porta-voz do Presidente Moon Jae-in disse que o gesto de Kim irá ajudar a reduzir o clima de tensão na península coreana e “contribuir para criar um ambiente muito positivo” para as negociações de paz.
Na quinta-feira, Moon afirmou que o líder norte-coreano deixara de exigir a retirada das tropas norte-americanas na região, em troca da desnuclearização da Coreia do Norte. Uma hipótese que será discutida entre Kim e o próprio Presidente sul-coreano, num encontro agendado para a próxima semana – que será o primeiro entre os líderes das duas Coreias em mais de uma década, – mas que foi recebida com cautela nos EUA e no Japão.
Segundo o New York Times, aquela possibilidade, aliada ao anúncio de suspensão dos ensaios nucleares e balísticos, está a ser encarada pelas lideranças militares norte-americanas como uma táctica ponderada por Kim. Ao demonstrar publicamente que tem vontade de abdicar de algumas das exigências historicamente intocáveis do regime, a Coreia do Norte pode estar a querer empurrar os EUA para um acordo de paz, antes sequer de renunciar ao equipamento e tecnologia militar que já possui e domina.
O próprio anúncio da KCNA não é claro sobre este último dado – bem pelo contrário. Kim Jong-un justifica a decisão pela suspensão dos testes com o facto de Pyongyang já ter “comprovado” a sua capacidade militar e diz que o “local de testes nucleares a Norte já completou a sua missão”.
Argumentos que já tinham sido mencionados quando, na sua mensagem de Ano Novo, o líder norte-coreano anunciou ter completado o seu programa nuclear e balístico.
“Continua a não ser claro se isto significa que a Coreia do Norte pretende não prosseguir com o desenvolvimento dos seus programas nucleares no futuro ou se irá encerrar totalmente ‘todas’ as suas instalações nucleares”, sublinha Nam Sung-wook, um especialista em estudos norte-coreanos na Universidade da Coreia, em Seul, citado pela Reuters.
A reacção japonesa à notícia teve em conta esta realidade. O ministro da Defesa afirmou que a suspensão dos ensaios “não é suficiente” e a apelou à manutenção da pressão internacional sobre Kim. “A comunidade internacional espera que a Coreia do Norte renuncie a todas as armas de destruição maciça de forma totalmente demonstrável e irreversível”, defendeu Itsunori Onodera.
Em Novembro de 2017, um ensaio da Coreia do Norte provou que o regime é capaz de atingir qualquer ponto do território dos EUA, de acordo com os cálculos do Comando do Pacífico dos Estados Unidos. O míssil então lançado acabou por cair nas águas do Mar do Japão, depois de atingir uma altitude 11 vezes superior à que se encontra a Estação Espacial Internacional.
O encontro entre o líder da Coreia do Norte e o Presidente Trump ainda não tem data nem local marcados – nem sequer garantias de que vá acontecer –, mas já está a ser preparado. Na Páscoa, Mike Pompeo, ex-director da CIA e nomeado para substituir Rex Tillerson no Departamento de Estado, encontrou-se com Kim Jong-un, naquele que foi o primeiro encontro ao mais alto nível entre norte-coreanos e norte-americanos desde 2000.