Companhias aéreas alertadas para possibilidade de ataques nas próximas 72 horas
A possível intervenção é uma resposta ao ataque químico deste sábado no bastião sírio de Douma, que fez dezenas de mortos — o ataque foi condenado por EUA, França e Reino Unido, que prometeram uma decisão para breve. Os voos da TAP não são afectados por este alerta.
A possibilidade de Donald Trump pôr em marcha uma intervenção na Síria, depois do ataque químico em Douma que provocou dezenas de mortos, não se trata de uma mera possibilidade: a decisão, diz o jornal espanhol El País nesta quarta-feira, já começa a ter efeitos práticos. A agência europeia de tráfego aéreo Eurocontrol alertou as companhias aéreas nesta terça-feira para que tomem precauções ao viajar para a zona Leste do Mediterrâneo, perante a possibilidade de um ataque aéreo na Síria nas próximas 72 horas.
Segundo a Reuters, a agência de regulação europeia disse que poderia haver lançamento de mísseis ar-terra e de mísseis de cruzeiro durante esse período, podendo também haver uma “interrupção intermitente de equipamentos de radionavegação”. As entidades reguladoras de aviação dos Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido já tinham avisado as transportadoras aéreas que poderiam vir a entrar no espaço aéreo sírio para a possibilidade de um ataque.
O aviso lançado pela Eurocontrol para as companhias que voem na zona do Mediterrâneo Oriental-Nicósia não terá qualquer influência nas operações da TAP, já que a transportadora portuguesa não sobrevoa nesta zona, explicou fonte da empresa ao PÚBLICO. A mesma fonte indicou que a TAP Air Portugal “não voa para algum lado perto da Síria nem sobrevoa qualquer zona próxima”.
Como confirmou o PÚBLICO na plataforma online Flight Radar 24, os únicos voos que têm sobrevoado a Síria são da companhia Middle East Airlines, com sede no Líbano. A Reuters diz que também a Syrian Air tem voos no país – de resto, são raros os voos comerciais que sobrevoam a região, como é possível ver no mapa.
O ataque químico a Douma e a prometida resposta
Em causa está a resposta internacional ao ataque químico na Síria, que Donald Trump considerou ser “atroz, bárbaro e inadmissível”, dizendo na terça-feira que tomaria uma decisão no prazo de 24 a 48 horas. A importância deste assunto fez com que o líder norte-americano cancelasse a visita que tinha agendada ao Peru, para participar na Cimeira das Américas, anunciou a Casa Branca.
Já no domingo, o Presidente dos EUA prometia que Assad “pagará um preço alto” pelas vidas das pessoas que morreram no ataque químico de sábado, no bastião rebelde de Douma, nos arredores de Damasco. Com o ataque de sábado, o líder sírio Bashar al-Assad conseguiu a rendição dos combatentes da oposição na zona de Douma, uma importante vitória.
A intenção de Trump é apoiada pela França e pelo Reino Unido: o Presidente francês Emmanuel Macron corroborou que a Rússia (aliada de Assad) estava a violar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU – a Rússia também foi acusada por Trump de apoiar o “animal” Assad – e que tomará uma decisão juntamente com os governos de Washington e Londres “nos próximos dias”. Já a primeira-ministra britânica, Theresa May, realçou a necessidade de haver uma “acção” do mundo face ao ataque.
“Neste momento estamos a analisar o ataque”, dizia à televisão ABC Thomas Bossert, conselheiro de Segurança Interna e Contraterrorismo da Casa Branca, no domingo. “Todas as opções estão em cima da mesa”, acrescentava. No ano passado, os Estados Unidos lançaram 59 mísseis contra uma base aérea síria em resposta a um ataque com gás sarin atribuído a Assad.
Na terça-feira à noite, o Conselho de Segurança da ONU rejeitou um projecto de resolução da Rússia para criar um novo mecanismo de investigação sobre o uso de armas químicas na Síria — país que entrou agora no seu oitavo ano de guerra, com mais de 500 mil mortes durante esse período, assim milhões de deslocados e refugiados.
Algumas associações diziam que foi utilizado gás de cloro e outro gás não identificado no ataque de sábado contra Douma, o último bastião de rebeldes nos arredores de Damasco. Houve dezenas de mortos, mas o número não é certo: há quem fale em 70, mas algumas instituições médicas falavam em 150, com “mais de mil casos de pessoas com problemas para respirar depois de a bomba-barril com gás de cloro ter sido largada”, segundo contava o médico Moyaed al-Dayrani.
Algumas horas depois do tweet de Donald Trump, houve disparos de mísseis na segunda-feira contra uma instalação militar síria, usada também por forças iranianas e russas, que provocou pelo menos 14 mortos de várias nacionalidades (sete eram iranianos); ainda que houvesse quem apontasse a responsabilidade do ataque a Washington, por causa do timing das declarações de Trump, Damasco e Moscovo culparam Israel pelo ataque à chamada base T-4.