Conselho da Europa apela ao fim do silêncio sobre abusos sexuais no desporto
Dados indicam que uma em cada cinco crianças na Europa é vítima de algum tipo de violência sexual.
O Conselho da Europa lançou uma campanha de sensibilização para os abusos sexuais infantis no desporto, apelando aos governos, clubes, associações e federações, assim como aos atletas, treinadores e pais, que tomem medidas concretas para prevenir e dar resposta a estas situações.
Com o lema “Start to talk” (Começa a falar), a campanha foi lançada nesta quinta-feira, em Madrid, e tem como objectivo ampliar ao mundo do desporto o alcance da Convenção de Lanzarote, focada na prevenção e combate à exploração infantil e abuso de crianças. O Conselho da Europa vai disponibilizar às autoridades públicas, instituições desportivas e organizações de protecção de menores diversos materiais de sensibilização: um anúncio televisivo de 45 segundos, o website www.starttotalk.org, ou kits de preparação para treinadores e dirigentes desportivos.
“O abuso sexual de crianças é o crime mais perverso e devemos fazer tudo o que pudermos para erradicá-lo em todas as áreas da sociedade, incluindo o desporto. A campanha ‘Start to talk’ é o nosso apelo às autoridades e ao movimento desportivo para dar uma voz às crianças e ajudar a prevenir e responder ao abuso”, sublinhou o secretário-geral do Conselho da Europa, Thorbjorn Jagland.
De acordo com o comunicado do Conselho da Europa, uma em cada cinco crianças na Europa é vítima de algum tipo de violência sexual, muitas vezes cometida por alguém do seu “círculo de confiança”. “Apesar de existirem poucos dados disponíveis sobre a prevalência dos abusos sexuais infantis no desporto, as crianças estão numa posição particularmente frágil por causa das relações de poder desiguais entre treinadores e crianças e também porque este tipo de incidentes é muitas vezes silenciado para evitar escândalos”, acrescentava o comunicado.
Outros factores que acentuam a vulnerabilidade das crianças aos abusos sexuais no desporto são o contacto físico que muitas vezes é requerido, os comportamentos sexuais inapropriados que são tolerados, e a tolerância à discriminação e desigualdade de género. Os cenários de risco são potenciados no desporto pela convivência em balneários, partilha de veículos ou dormidas longe de casa, alerta o Conselho da Europa.
Um dos maiores escândalos de abusos sexual no desporto conheceu o desfecho no início deste ano: Larry Nassar, médico da federação de ginástica dos EUA nas últimas três décadas e que acompanhava de perto as ginastas de elite, incluindo várias atletas olímpicas, foi condenado a 175 anos de prisão pelo abuso de, pelo menos, 156 mulheres.