Combatentes que controlavam a maior cidade de Ghouta vão sair

Facção da oposição a Assad que controla Douma vai ser evacuada para Jarablus, cidade sob controlo turco.

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Combatentes aguardam evacuação num autocarro,Combatentes aguardam evacuação num autocarro Omar Sanadiki/NARCH30/REUTERS,Omar Sanadiki/NARCH30/REUTERS
Douma está cercada pelas forças de Assad
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Douma está cercada pelas forças de Assad BASSAM KHABIEH / Reuters

O grupo que controla Douma, a maior cidade de Ghouta oriental, o bastião nos arredores de Damasco de oposição a Bashar Al-Assad, chegou a acordo para abandonar a região, entregar armas pesadas e de médio porte e partir para Jarablus, uma cidade perto da fronteira com a Turquia e que para todos os efeitos é controlada por Ancara.

Este pode ser o fim do conflito de larga escala neste enclave da oposição nos arredores de Damasco, que no último mês suportou uma violenta ofensiva de Assad e dos seus aliados.

Depois de a televisão estatal síria anunciar o assentimento da Jaish Al Islam sair de Ghouta Oriental, a unidade de media do Hezbollah anunciou que o acordo era mesmo efectivo. Ainda no sábado, este grupo tinha firmado um acordo para evacuar combatentes feridos para Idlib, no Norte do país, o último bastião nas mãos da oposição.

A governação de Jarablus é hoje para todos os fins controlada por Ancara, que libertou esta zona do Daesh em Setembro de 2016, durante a operação Escudo do Eufrates. A Turquia dá apoio nos serviços de saúde, educação, segurança e até distribuição de correio, explica a agência noticiosa turca Anadolu.

Guerrilheiros de um outro grupo, a Failaq al Rahman, que tinham fugido para Douma, com o avanço das forças de Assad, puderam sair da cidade também neste domingo. 

Hezbollah e a Rússia estiveram envolvidos na ofensiva final contra Ghouta e nas negociações. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, relatava este acordo como tendo produzido um "compromisso parcial" para retirar quase 1300 civis de Douma para Idlib.

Uma comissão de representantes da Turquia, Irão e Rússia, os três países que garantem as negociações de paz de Astana, ficarão encarregues de entregar os prisioneiros de guerra que estavam em poder deste grupo de oposição armada ao regime de Assad, diz a Reuters.

O objectivo da Jaish al Islam nas negociações, diz a Reuters, era garantir que a segurança de Douma fosse assegurada pela polícia militar russa - e não pelo Hezbollah ou milícias ligadas a Assad. Os militares russos envolvidos nas negociações acabaram por aceitar as condições - mas o Governo sírio manteve-se obstinadamente contra, disse à agência noticiosa uma fonte conhecedora do decorrer das conversações.

De acordo com o Observatório Sírio, as tropas de Assad já controlam 95% do enclave de Ghouta, após a ofensiva militar do iniciada em meados de Fevereiro. 

Os combates nos arredores da capital da Síria deram origem a uma das maiores crises humanitárias desde que a guerra civil começou, há oito anos. Só nos últimos dez dias, calcula-se que terão abandonado o território mais de 46 mil civis. Mas cerca de 140 mil pessoas permanecem em Ghouta Oriental, com limitado acesso a medicamentos ou alimentos, diz a Al-Jazira.

Idlib pode ser o próximo alvo

Com a reconquista de Ghouta a chegar ao fim, Idlib surge no mapa como uma das derradeiras bolsas de território controladas pelos rebeldes e está na calha para ser o centro da próxima operação militar síria.

A caminho de Idlib está Marwa Habaq, um chefe de família de Ghouta Oriental que teve de escolher entre “duas decisões amargas”, contou ao New York Times: “Partir para o desconhecido ou ficar nas mãos de Assad”.

Segundo o jornal de Nova Iorque, Habaq abrigou-se com a mulher e a filha numa cave em Ghouta e juntos sobreviveram aos longos dias de bombardeamentos no enclave. Na hora de decidir o seu futuro e o da família preferiu o “desconhecido”, Idlib, a entregar-se ao exército de Assad e ser forçado a alistar-se.

Como Habaq, contam-se milhares. Desde o início da guerra, a população de Idlib já duplicou e todos os dias chegam novos grupos de civis, combatentes da oposição e membros de facções jihadistas, oriundos de toda a Síria – a grande maioria exausta, traumatizada e desiludida com o curso da guerra.

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