Marcelo visita sábado as famílias ciganas desalojadas em Faro
Presidente da República já tinha decidido ir e só não o fez antes “por motivos de agenda”.
O Presidente da República vai visitar no próximo sábado as famílias ciganas desalojadas em Faro na sequência dos temporais que têm abalado a região, apurou o PÚBLICO. Segundo fonte de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa já tinha decidido fazê-lo há alguns dias, mas a agenda impediu a realização da visita mais cedo.
Na noite de domingo para segunda-feira, dezenas de famílias ficaram desalojadas nos acampamentos de ciganos de Cerro do Bruxo e Escuro, em Faro, tendo sido obrigadas a pernoitar no pavilhão municipal. No dia seguinte, o presidente da câmara, Rogério Bacalhau, descartou a hipótese de atribuir habitações sociais, pelo menos no curto prazo, às cerca de 100 pessoas afectadas. “Logo que as condições o permitam, vão ter de regressar aos locais onde permanecem há muitos anos. Estamos a estudar soluções para o futuro.
Diversas associações e activistas de etnia cigana tomaram na terça-feira uma posição conjunta contra o que lhes parece ser o “desprezo” pelas pessoas que perderam os seus haveres em Cerro do Bruxo. Recusam-se a ser invisíveis e reclamam respeito, assim como assinalam a ausência de quem lhes dê solidariedade e conforto, da autarquia à Presidência da República, passando pela secretaria de Estado da Habitação, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana e Alto Comissariado das Migrações.
“É da praxe que ele [Marcelo Rebelo de Sousa] esteja em todo o tipo de calamidades que afectam a população portuguesa de Norte a Sul do país." Ali não esteve. "Porquê?”, questiona Bruno Gonçalves, dirigente da Letras Nómadas, uma das associações subscritoras da posição conjunta. Marcelo irá, assim que a agenda lhe permitir, e isso só acontecerá no próximo sábado.
Aliás, logo na segunda-feira, de visita a Beja, o Presidente da República afirmava estar a acompanhar o caso e contava ter contactado o presidente da Câmara de Faro ainda no domingo, admitindo a hipótese de visitar o concelho. Mas Rogério Bacalhau "disse que não se justificava, porque estava a ser resolvido tudo e o principal problema que havia era com uma comunidade cigana, que tinha ficado muito afectada nos seus acampamentos".
Mas o ponto determinante da carta subscrita pelas associações é a de alternativas de habitação: “Estamos indignados com a facilidade de alternativas propostas pelo município de Faro, que passam pela doação, mais uma vez, de madeira para reconstruir as barracas”, lê-se no texto subscrito por um conjunto de organizações: Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas; Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas; Associação para a Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas; Associação Cigana de Coimbra; Letras Nómadas; Sílaba Dinâmica e Ribaltambição.
Já há oito anos uma intempérie deixou aquelas famílias na rua. E a autarquia, então presidida por Macário Correia, ofereceu tábuas para que reconstruíssem as barracas, recorda Bruno Gonçalves. Reconhecendo que “não se pode, de um momento para outro, construir habitação social”, entende que um realojamento digno dependeria sempre de vontade política. E não a vê.