Passos deixa linhas vermelhas sobre entendimentos com PS
Ex-líder faz um cerrado ataque ao PS que não se renovou e mantém ministros e secretários de Estado que “levaram o país à bancarrota”. E aponta CDS como parceiro no futuro.
No último discurso como presidente cessante do PSD, Pedro Passos Coelho não deixou de sinalizar o caminho ao seu sucessor na liderança do partido, Rui Rio. Fê-lo através da forma como se referiu quer ao CDS, com quem governou em coligação, quer das críticas ao actual Governo e ao PS.
Começando por falar brevemente do seu mandato como primeiro-ministro — deixou claro que virá a escrever sobre ele —, Passos fez questão de afirmar: “O que conseguimos fazer, não fizemos sozinhos, fizemos com o CDS.” Não deixando de sublinhar quem, na sua opinião, é o parceiro estratégico de poder do PSD, ao acrescentar de seguida: “Isso é importante para o futuro.”
Depois de assinalar a importância que o CDS tem para o PSD, tratou de fazer a demarcação do PSD em relação ao PS e ao actual Governo, em termos que tornam clara a ideia de que se opõe a qualquer estratégia de entendimento com os socialistas. A abordagem dura que fez do executivo liderado por António Costa atingiu o clímax quando afirmou que se vive em Portugal uma “situação singular” de existir um Governo “cuja composição” revela “arrogância”. E, explicando, quebrou um tabu até hoje mantido nas críticas que fez ao PS. “Este Governo tem ministros e secretários de Estado, são vários, que levaram o país à bancarrota”, denunciou Passos, acrescentando: “Não houve até hoje um pedido de desculpas. O PS não teve o decoro de uma renovação.” E no ataque que desferiu aos socialistas, lembrou mesmo: “José Sócrates em seis anos duplicou praticamente a dívida pública.”
Não baixando a guarda em relação aos socialistas, Passos criticou ainda o facto de no discurso do executivo do PS “o que aconteceu entre a bancarrota e a chegada ao Governo não existiu”, concluindo: “Nunca vi este tipo de memória.” Uma alusão ao tempo em que o seu Governo geriu o Estado e cumpriu o programa de ajustamento imposto pela troika da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional para garantir um empréstimo de 78 mil milhões de euros que viabilizou as contas públicas portuguesas. Aliás, logo a abrir o discurso, Passos advogou: “No essencial e importante não falhámos ao país.”
Na intervenção com que abriu o 37.º Congresso do PSD, em que foi longamente aplaudido de pé e em que pela primeira vez um líder cessante discursa no palco da reunião magna do partido já com o líder eleito, Rui Rio, sentado à sua frente, Passos não se esqueceu de referir e citar o fundador Francisco Sá Carneiro. Dedicando também longos minutos a lembrar que o PSD é um partido “reformista, realista, que rejeita vanguardismos” e que “respeita as pessoas” e a sua “dignidade”.
A terminar, Passos tratou de falar dos dois candidatos que concorreram à sua sucessão. Dirigindo-se a Santana Lopes disse: “A sua derrota não foi uma derrota honrosa, foi muito mais que isso.” Já a Rui Rio afirmou: “Tenho a certeza que quem ganha tem sempre o gesto mais relevante para unir o partido e o congresso não começou e já estão a ser dados sinais. Não é nas trincheiras que acrescentamos ou somamos.”
E prometeu ser “um soldado” do PSD que contribuirá para a união do partido. “Contribuirei como um soldado para que os resultados sejam os que todos ambicionamos”, prometeu Passos, depois de ter afirmado, referindo-se ao novo ciclo do partido: “Não é fácil bater a ‘geringonça’, mas é preciso bater a ‘geringonça’.”