Pela primeira vez, um Kim irá atravessar o Paralelo 38
A irmã de Kim Jong-un vai estar ao lado do "número dois" do regime norte-coreano, o presidente do parlamento Kim Yong-nam, durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, na sexta-feira.
Kim Yo-jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, irá fazer parte da comitiva enviada por Pyongyang aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, que começam sexta-feira na Coreia do Sul.
A integração de Kim Yo-jong na representação governamental tem um forte significado político, uma vez que a irmã do líder norte-coreano é vista como uma das personalidades mais influentes do círculo de poder do país.
A sua presença em Pyeongchang é, por si só, histórica. Kim Yo-jong será o primeiro membro da dinastia Kim, onde está depositada a legitimidade do regime, a visitar a Coreia do Sul.
Para além disso, como vice-directora do departamento de propaganda do Partido dos Trabalhadores da Coreia tem também um forte peso político a nível interno e a sua proximidade ao irmão é sublinhada pela generalidade dos analistas.
"Um dos aspectos positivos da sua visita é que ela é alguém capaz de entregar uma mensagem directa em nome de Kim Jong-un", diz à Reuters o professor da Academia Nacional Diplomática da Coreia, Shin Beom-chul.
O envio de Kim ao Sul "pode ser interpretado como parte da ofensiva de paz para mostrar que [a Coreia do Norte] pode exercer o papel de Estado normal, mesmo com armas nucleares", afirma o professor da Universidade Global de Handong, citado pela agência Yonhap.
No congresso de 2016, Kim Yo-jong, um ano mais nova do que o irmão, foi promovida ao comité central do partido único, reforçando a influência que já detinha.
Por outro lado, o seu papel no aparato de propaganda do regime pode também indicar que Pyongyang tente utilizar a sua participação nos Jogos como um exercício puramente de relações públicas.
A comitiva governamental norte-coreana nos Jogos de Pyeongchang irá contar também com o presidente do parlamento, Kim Yong-nam, que exerce o papel de chefe de Estado, embora com um carácter cerimonial – o poder real está nas mãos de Kim. O presidente do comité de Conduta Desportiva, Choe Hwi, e o chefe da agência responsável pelas questões inter-coreanas, Ri Son-gwon, compõem o resto da representação.
O Governo sul-coreano encarou a inclusão da irmã de Kim na comitiva norte-coreana como uma boa notícia. "O Governo vê a composição da delegação – partido, Governo e dirigentes desportivos – como significativa, uma vez que a sua viagem tem como objectivo celebrar a cerimónia de abertura dos Jogos de Inverno", afirmou o Ministério da Unificação sul-coreano, através de um comunicado citado pela agência estatal Yonhap.
Para Seul, a participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno – cuja cerimónia inaugural irá contar com a entrada em conjunto sob a mesma bandeira e a participação de uma equipa feminina de hóquei unificada – é uma vitória diplomática e uma garantia de que está aberto um período de apaziguamento na relação conflituosa entre os dois países. Mas o verdadeiro objectivo é que esta reaproximação abra uma janela de diálogo, que estava fechada há já vários anos, para que as duas Coreias possam abordar o programa nuclear de Pyongyang.
Mais sanções
Os EUA seguem a reaproximação entre as duas Coreias com alguma desconfiança. Esta quarta-feira, o vice-Presidente Mike Pence revelou que Washington pretende anunciar novas sanções contra o regime norte-coreano, que caracterizou como "tirânico e opressivo".
"Não iremos permitir que a Coreia do Norte esconda por trás da bandeira olímpica a realidade de que escravizam o seu povo e ameaçam toda a região", afirmou Pence em Tóquio, onde esteve reunido com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, também ele adepto da estratégia de "pressão máxima" sobre Pyongyang.
Um dos receios da Administração de Donald Trump é que o verdadeiro objectivo da Coreia do Norte em ensaiar uma aproximação ao Sul seja tentar alcançar uma suavização das sanções económicas actualmente impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, sem fazer reais concessões no que respeita ao seu programa de armamento nuclear.
Pence irá liderar a comitiva dos EUA em Pyeongchang e convidou o pai de Otto Warmbier, o estudante norte-americano que morreu no ano passado depois de ter passado 17 meses detido na Coreia do Norte.