Theresa "Maybe" defina-se, pedem de todos os lados

Partidários e adversários do "Brexit", negociadores de Bruxelas, todos pedem clareza à primeira-ministra britânica e ela não consegue satisfazer ninguém.

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Theresa May e o marido na visita à China Aly Song/REUTERS

O que quer realmente Theresa May? Acredita na saída do Reino Unido da União Europeia, ou governa sem saber que rumo dar ao país? Esta é, cada vez mais, a pergunta que o seu próprio partido lhe faz, sobretudo a facção mais radical dos partidários do “Brexit". Num clima de contestação crescente, exigem-lhe clareza quanto às prioridades nos futuros acordos de comércio do Reino Unido com a UE. De Bruxelas, vem um pedido semelhante: a indefinição está a dificultar o andar das negociações.

Os mais radicais defensores do “Brexit” preocupam-se com eventuais concessões que a primeira-ministra possa fazer. Um sinal de alarme para estes foi, na semana passada, o ministro das Finanças, Philip Hammond, ter afirmado que a relação do Reino Unido com a UE “mudaria muito pouco” após o “Brexit”. Outros ministros a favor do “Brexit”, como Boris Johnson, avisaram que Londres perderia as principais vantagens da saída da UE se continuar constrita pelas regras do Mercado Único. E pediram a May que clarifique a sua posição.

Do lado de Bruxelas, exigem a May, que já ganhou a alcunha de “Theresa Maybe”, que torne as posições britânicas mais concretas. A posição do Reino Unido sobre as relações com a UE após o Brexit são tão vagas que é difícil elaborar directrizes pormenorizadas para a fase final de negociações, noticiava o Politico esta semana.

A primeira-ministra britânica, que passou três dias na China, tentando garantir acordos comerciais que garantam a futura relação comercial com Pequim fora do bloco europeu, responde sem reconhecer falta de clareza ou definição. Diz que o seu país não deve ter de escolher entre a Europa e o resto do mundo. “Não acredito que sejam alternativos”, disse em entrevista à BBC.

Interrogada pelos jornalistas no avião que a levou à China se acredita no “Brexit”, ela tentou ainda assim transmitir uma mensagem de confiança. “Acredito que fora da UE podemos projectar a imagem do Reino Unido Global, e acredito que podemos ver um melhor futuro para a nossa economia”, afirmou.

Mas quando May tenta concretizar políticas, consegue ser desastrosa. Como quando esta semana, a partir da China, desencadeou um novo confronto com Bruxelas, ao afirmar que os cidadãos europeus que chegarem ao Reino Unido durante o período de transição pós-“Brexit” não devem esperar ter os mesmos direitos que aqueles que já lá viviam. O Conselho Europeu propôs na segunda-feira uma posição de manutenção do status quo, de 30 de Março de 2019 até 31 de Dezembro de 2020.

As declarações de May mostram que não concorda com a proposta. “Há uma diferença entre os que vieram antes de deixarmos [a UE] e os que vieram quando sabem que o Reino Unido está a sair”, frisou.

Activistas que fazem campanha na Europa pelos direitos dos britânicos que vivem noutros países da UE após o “Brexit” arrepiaram-se com estas palavras da sua primeira-ministra, relata o Guardian.

Dizem que ela continua a não compreender que se não respeitar os direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido, essas acções terão uma resposta recíproca nos cerca de 1,2 milhões de britânicos que vivem em países como Portugal, Espanha, Itália ou França, entre outros. “Ela não tinha de dizer nada agora, mas preferiu espetar uma faca nas negociações”, disse ao diário Debra Williams, dirigente do grupo Brexpats, com sede na Holanda.

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