Carbono Alterado, o futuro em que morrer é mais difícil

A nova série do Netflix, cujos dez episódios saíram esta sexta-feira, mostra um futuro em que a consciência das pessoas pode ser transferida de corpo para corpo. Isso torna a morte um problema muito menor, mas dá lugar a uma enorme desigualdade social.

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Carbono Alterado mostra um futuro em que as consciências das pessoas podem ser descarregadas em novos corpos Netflix

Takeshi Kovacs é meio japonês, meio eslavo. Depois de passar 250 anos morto, é trazido de volta à vida no século XXIV, no corpo de um homem branco, com uma cara que não reconhece e num mundo totalmente diferente daquele em que viveu. Tudo para cumprir uma missão: descobrir quem matou um homem. E quem o contrata é precisamente esse homem, Laurens Bancroft, uma das pessoas mais ricas e mais velhas do mundo.

Tal é possível porque cada cidadão deste futuro tem um disco rígido, uma espécie de alma que pode, caso não seja destruída – aí a morte é mesmo definitiva –, transferir-se de corpo para corpo. Não funciona para toda a gente de maneira igual: os ricos podem escolher os corpos que quiserem, incluindo actualizações à medida e clones, e os pobres levam com aquilo que houver, isto quando conseguem pagar. Bancroft não viu quem o matou porque essa imagem não ficou guardada na cópia de segurança da sua alma (algo a que só os ultra-ricos como ele têm acesso), mas há uma longa lista de suspeitos, incluindo o próprio. Esta nova realidade é o estado das coisas contra o qual Kovacs morreu a lutar.

É essa a premissa de Carbono Alterado, a nova e sumptuosa série de ficção científica cyberpunk do Netflix, cujos dez episódios chegaram esta sexta-feira ao serviço de streaming. No centro de tudo está uma história de detectives normal, com muito de film noir (ainda se fuma, e muito, por aqui), seguindo as convenções do género só que num mundo futurista, repleto de tecnologia, desigualdade, violência (muita dela contra mulheres), acção, nudez (tanto feminina quanto masculina) e sexo. E levando um pouco mais tempo do que é habitual a chegar ao fim, já que cada episódio tem quase uma hora. Mas mesmo quando corre o risco de se tornar chata ou demasiado ridícula, continua a haver mistério, boas sequências de acção e um cenário impressionante, cheio de cantos e recantos, fruto de um generoso orçamento raramente visto em empreendimentos televisivos do género.

A série foi criada por Laeta Kalogridis, que há mais de 15 anos comprou os direitos do primeiro de três livros de Richard K. Morgan, Carbono Alterado – publicado em Portugal em 2008 –, para tentar fazer um filme. Antes disto, trabalhou com James Cameron, escreveu Shutter Island para Martin Scorsese, além de ter criado duas séries de televisão não muito bem sucedidas, Birds of Prey e Bionic Woman.

O sueco Joel Kinnaman, de The Killing e House of Cards, é o protagonista, o tal homem branco em cujo corpo Takeshi Kovacs se vê, o que deu azo a acusações de whitewashing. Para se defender, Kalogridis disse ao site io9 que queria manter-se fiel ao livro nesse ponto e que há mais actores de origem asiática, como Will Yun Lee, a fazerem de Kovacs – há flashbacks constantes para a vida do herói antes de ter morrido. Além disso, explicou, tentou povoar o universo da série com o máximo possível de pessoas não-brancas, mesmo quando o texto original não o pedia. Depois desta temporada, Kinnaman já disse que não irá regressar, pelo que há a hipótese de Kovacs voltar no corpo de outros actores.

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