Trump desmente chefe de gabinete: "O muro é o muro, nada mudou"
Presidente dos EUA garante que haverá uma barreira intransponível ao longo da fronteira com o México, e insiste que será o país vizinho a pagar a construção.
Donald Trump começou o dia a desmentir o chefe de gabinete, John Kelly, citado numa notícia do jornal The New York Times como tendo dito que as opiniões do Presidente dos Estados Unidos sobre a construção de um muro ao longo da fronteira do país com o México tinham “evoluído”, uma vez que durante a campanha eleitoral o então candidato não estava na posse de toda a informação relevante para a concretização dessa promessa. “O muro é o muro, nunca mudou nem evoluiu desde o primeiro dia em que o concebi”, garantiu Trump, através do Twitter.
A pequena polémica matinal desta quinta-feira desvia-se do guião habitual de Trump versus os media, na medida em que o Presidente rebateu declarações do seu chefe de gabinete, o general reformado John Kelly, que tem estado a negociar com o Congresso, em contra-relógio, a aprovação de uma medida para assegurar o financiamento do Governo federal, sem a qual haverá um novo shutdown. A medida é necessária uma vez que o Congresso ainda não aprovou o novo orçamento – e a dificuldade tem a ver com a exigência da bancada democrata (em minoria) de que esta assegure a autorização de residência para os cidadãos que entraram ilegalmente nos EUA quando ainda eram crianças e viveram toda a vida no país.
Os jornais The New York Times e The Washington Post publicaram notícias que davam conta das declarações de Kelly numa reunião com membros dos chamados Hispanic Caucus e Asian Pacific American Caucus, que são os dois grupos de congressistas que defendem os interesses dos eleitores hispânicos e dos americanos com ascendência da região da Ásia e Pacífico na Câmara de Representantes, na quarta-feira. Segundo as fontes citadas pelos diários, o chefe de gabinete do Presidente afirmou que agora que Trump já tinha sido devidamente “esclarecido” sobre questões levantadas pela construção do muro, a sua posição tinha “evoluído” – ao ponto de já não estar prevista a construção de uma barreira intransponível ao longo da fronteira com o México.
A Casa Branca não só não desmentiu os relatos dos jornais, como também o próprio John Kelly disse, de viva voz, numa entrevista à Fox News, que as promessas do Presidente durante a campanha eleitoral relativamente à construção e ao financiamento do muro tinham mudado em função do confronto com a realidade. “Governar é muito diferente de fazer campanha”, justificou o chefe de gabinete.
Na sua mensagem no Twitter, Donald Trump clarificou que “algumas partes do muro serão necessariamente transparentes”. E acrescentou que “nunca teve a intenção de construir em áreas onde já existem protecções naturais, como montanhas ou cursos de água”. Aproveitando o embalo, o Presidente norte-americano repetiu outro dos seus slogans de campanha, assegurando que o muro será pago, “directa ou indirectamente” pelo México, “que tem um ridículo excedente comercial de 71 mil milhões de dólares com os EUA”.
A polémica questão da construção do muro na fronteira surge neste contexto uma vez que a Casa Branca exige que o projecto esteja previsto como contrapartida na legislação para o financiamento do Governo federal. Aliás, esta insistência tem sido um dos entraves nas negociações em curso entre as bancadas republicana e democrata.