Paula Brito e Costa sai para deixar “à Justiça o que é da Justiça”

Saída da presidente da Raríssimas e recusa do deputado do PSD Ricardo Baptista Leite em ocupar o cargo de vice-presidente geram vazio na direcção da Raríssimas.

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Paula Brito e Costa, numa visita da rainha de Espanha, acompanhada da então primeira-dama, Maria Cavaco Silva, à Raríssimas MARIO CRUZ

Debaixo de pressão e torpedeada com acusações vindas de todos os lados, a presidente da Raríssimas, Paula Brito e Costa, reuniu-se logo na segunda-feira de manhã com os trabalhadores da instituição para lhes comunicar a sua demissão do cargo.

“A minha presença já está a afectar a instituição e tenho de sair. Esta é uma cabala muito bem feita”, queixou-se, em declarações ao Expresso, numa entrevista dada ontem de manhã na Casa dos Marcos, para acrescentar: “Deixo à Justiça o que é da Justiça, aos homens o que é dos homens e ao meu país uma das maiores obras, mas mesmo assim saio. Presa só estou às minhas convicções”.

A agora ex-presidente saiu no mesmo dia em que um inspector do Trabalho e da Segurança Social entrou na Raríssimas, no âmbito da investigação “global urgente” ordenada pelo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva. Ainda ao Expresso, Paula Brito e Costa confessou que teve de refrear a vontade de se sentar, “lado a lado”, com o inspector e dizer-lhe: “Vá, vamos lá, diga-me factura a factura o que é preciso explicar”.  

Quanto ao salário-base de três mil euros, a que se somavam ajudas de custo e de deslocação de valor equiparável, “era justo”, segundo a própria, para quem “sabe a que horas entra mas não a que horas sai”. Está cima do previsto na lei para os dirigentes de uma IPSS, mas o cargo que ocupava, alegou, não se encaixava nessa categoria: “Não sou remunerada enquanto presidente da instituição. Eu sou uma empregada por conta de outrem e saio por isso do regime das IPSS. Tenho um contrato de trabalho com uma empresa que diz que sou directora-geral.” O marido, Nélson Oliveira Costa, e o filho, César da Costa, também trabalham na instituição, e o mais certo é que este último tenha deixado de ser o “herdeiro da parada”, como se lhe referira Paula Brito e Costa, na reportagem da TVI.

Vazio na direcção

Antes mesmo de esta demissão ser tornada pública, já o conselho directivo e os coordenadores da Casa dos Marcos, onde se concentram os serviços de assistência aos portadores de doenças raras, emitiam um comunicado onde se referiam a Paula Brito e Costa como ex-presidente, asseverando que continuarão a cumprir as suas funções e que “não estão em causa quaisquer serviços prestados na Casa dos Marcos”.

Com Paula Brito e Costa de fora e com o deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, a declarar-se indisponível para ocupar o cargo de vice-presidente, já depois de o Ministério Público ter confirmado que foi aberta uma investigação à gestão da Raríssimas, criou-se um vazio na direcção da associação. Que só deverá ser resolvido após a reunião que o actual presidente da Assembleia Geral da Raríssimas, o advogado Paulo Olavo Cunha, terá de convocar, conforme foi, de resto, pedido pela delegação do Centro da Raríssimas que, tal como os trabalhadores, se demarcou da gestão danosa imputada à ex-presidente.

O exercicío de demarcação não se cingiu aos trabalhadores da Raríssimas. As ex-ministras Maria da Graça Carvalho (Ciência) e Maria de Belém (Saúde) negaram integrar o conselho consultivo da instituição. “Fui convidada, mas nunca tomei posse. Não assinei nada, papel nenhum”, declarou Belém à revista Sábado. Isabel Mota, actual presidente da Gulbenkian, aceitou o convite mas garantiu nunca ter sido convocada para qualquer reunião. A informação oficial aponta como membros do conselho consultivo da associação nomes como Leonor Beleza, Fernando Ulrich, Pedro Pitta Barros, António Cunha Vaz e Roberto Carneiro. 

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