Santana e Rio: a conquista do PSD faz-se voto a voto
Sem debates e sem moções, a campanha interna do PSD segue morna. Os candidatos contam apoios de figuras notáveis, de dirigentes e autarcas que possam influenciar o voto
Sem programa e com uma campanha morna, os candidatos à liderança do PSD, Pedro Santana Lopes e Rui Rio, percorrem o país em sessões de esclarecimentos aos militantes – e já vão na segunda volta – na conquista de votos. O PÚBLICO faz um mapa com os apoios das distritais – a maioria dos líderes declarou apoio pessoal e não com base numa decisão formal da estrutura – mas onde contam e muito os presidentes de câmara.
Os debates televisivos entre os dois candidatos estão prestes a ser acertados, apurou o PÚBLICO, depois de semanas de impasse e de uma primeira reacção de Rui Rio em rejeitar multiplicar os duelos nas distritais como propôs Santana Lopes. A falta de debates – os dois candidatos ainda não fizeram nenhum nem junto dos militantes - pode explicar a campanha morna ou “confidencial” como lhe chamou Miguel Relvas, antigo número dois de Passos Coelho. São poucos os que arriscam nesta altura, com convicção e certezas, avançar com o nome do próximo líder do PSD que será eleito em Janeiro de 2018.
Só na próxima semana, dia 15, termina o prazo para pagamento de quotas dos militantes e nessa altura, segundo os responsáveis de cada candidatura, será possível ter uma ideia mais aproximada do candidato que leva vantagem.
Os números mais recentes que foram divulgados pelo PÚBLICO revelaram que mais de cinco mil militantes do PSD pagaram as quotas desde que se iniciou o processo eleitoral para a liderança. Mas os dirigentes acreditam que será, nesta recta final, que haverá um maior acréscimo de regularização de quotas, o que permite votar nas directas.
Ainda com poucas sondagens sobre os dois candidatos, Rio e Santana têm jogado em algumas diferenças de discurso : um mais virado para o rigor das contas e na “revolução” do sistema político, o outro mais dedicado às questões sociais. O ex-autarca do Porto tem apostado as fichas na pergunta: qual o melhor candidato para enfrentar António Costa nas próximas legislativas?. Essa é a questão que orienta a estratégia de campanha de Rui Rio.
A preocupação da equipa do antigo autarca do Porto é a de passar uma imagem de credibilidade e de responsabilidade do candidato, numa tentativa de fazer contraste com Santana Lopes.
Com a imagem dos “afectos”, o antigo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa quer transmitir a ideia de experiência – ex-primeiro-ministro e Provedor da Santa Casa – pragmatismo mas também irreverência. Santana Lopes começou por dizer que é capaz de elogiar o Governo, quando for o caso, e aplaudiu até o ministro das Finanças Mário Centeno. Mas na passada quarta-feira deixou um aviso a António Costa dizendo que se “desengane” se pensa que vai ter com o PSD uma relação mais fácil do que com Passos Coelho.
Num primeiro momento da campanha, Rio e Santana fizeram dos apoios das figuras notáveis do partido a sua bandeira. Do lado do ex-autarca do Porto perfilaram-se figuras do cavaquismo como Manuela Ferreira Leite (ex-líder do partido) Joaquim Ferreira do Amaral, Luís Mira Amaral, Couto Santos, Miguel Cadilhe e Silva Peneda. Conta também com o ex-chefe da Casa Civil de Cavaco Silva, Nunes Liberato, e os consultores David Justino (coordenador da moção) ou Carlos Blanco de Morais. Há outras figuras que têm estado afastadas do partido como António Capucho que admitem voltar ao PSD, caso Rio ganhe as eleições. O mandatário é Nuno Morais Sarmento, ex-ministro de Durão Barroso. Além de Ferreira Leite, outro ex-presidente do partido (e fundador) Francisco Pinto Balsemão colocou-se ao lado de Rio.
Do lado de Santana, os ex-ministros Rui Machete e António Martins da Cruz mas também figuras relevantes do passismo como Teresa Morais,Teresa Leal Coelho, Miguel Relvas, e Pedro Pinto. Ao seu lado estão também históricos como António Pinto Leite e Margarida Salema.
Dos 12 vice-presidentes da bancada, sete já declararam apoio a Santana: Amadeu Albergaria, Carlos Abreu Amorim, Sérgio Azevedo, José Cesário, Miguel Santos, Berta Cabral e Nuno Serra. A estes junta-se também o líder da JSD, Simão Ribeiro. Já o antigo presidente dos ‘jotas’ Pedro Rodrigues é apoiante de Rui Rio.
Entre as distritais, há quatro importantes e onde se disputam as eleições: Lisboa, Porto, Braga e Aveiro. Mas os apoios dos presidentes de câmara também são influentes na conquista do voto. Muitos deles vão contra a corrente da posição assumida pelo líder da distrital. É o caso, por exemplo de Almeida Henriques (Viseu), e de três presidentes de câmara do distrito de Aveiro – distrital que apoia Rio como Joaquim Pinto Moreira (Espinho) Ribau Esteves, (Aveiro) e Emídio Sousa (Santa Maria da Feira) que estão ao lado de Santana.
As marcas de cada um dos candidatos ficarão mais nítidas com a apresentação das moções de estratégia global. O prazo de entrega só termina a 2 de Janeiro mas é possível que sejam divulgadas antes. Depois serão quase 15 dias de campanha interna que se prevê mais intensa. O sucessor de Passos Coelho é escolhido dia 13 de Janeiro e só um mês depois será consagrado em congresso.