A máquina de fazer golos está a começar a gripar?
Desde que chegou a Espanha, nunca o avançado português marcou tão poucos golos nos seus 17 primeiros jogos da temporada. Nos jogos da Liga espanhola a queda é abrupta.
Cristiano Ronaldo é um profissional de alto nível. Trabalha para a excelência e tem sido dessa forma que tem atingido o sucesso, traduzido em inúmeros troféus, tanto colectivos como individuais. Sendo um avançado, CR7 vive, acima de tudo, dos golos. E o internacional português tem sido uma autêntica máquina de fazer golos. Até… esta época.
A falta de pontaria de Cristiano Ronaldo é um tema quase tabu, no Santiago Bernabéu. Todos sabem o peso que o português tem no rendimento da equipa e tudo o que possa perturbar o inflamável estado de espírito do goleador dos “merengues” é tratado com pinças no Real Madrid. Até porque é sabido como CR7 reage mal a quem se atreve a apontar-lhe falhas ou, neste caso, fragilidades.
A caminho dos 33 anos, Cristiano Ronaldo está cada vez mais perto do fim de uma carreira absolutamente brilhante. Só que, com um ego equivalente à sua qualidade de futebolista, o mais natural é que aquele que será um dos melhores jogadores de sempre, recuse até ao limite que está a perder faculdades. Mas há sinais…
Os números são infalíveis e, neste aspecto, faltam argumentos para negar a evidência ao insaciável Cristiano Ronaldo. Desde que chegou a Madrid, esta está a ser a época menos concretizadora do português, que nunca como agora marcou tão poucos golos nos seus 17 primeiros jogos da temporada. São “apenas” 11 remates certeiros, mesmo não entrando nestas contas os quatro primeiros jogos da Liga espanhola (que CR7 não pôde disputar devido a castigo). E é precisamente no campeonato do país vizinho que mais se nota a actual desinspiração de Ronaldo – nos dez encontros em que participou só marcou dois golos.
Esta tendência de "abrandamento" tem vindo, contudo, a verificar-se ao longo das últimas três épocas. Cristiano Ronaldo tem vindo a marcar cada vez menos golos (ver quadro nesta página).
E estes sinais de desgaste são também visíveis no final das respectivas temporadas. Depois das épocas absolutamente excepcionais de 2011-12 e 2012-13, em que apontou, respectivamente, 60 e 55 golos em 55 jogos, os números têm vindo, lentamente, a baixar, excepção feita a 2014-15, quando bateu todos os seus recordes, com 61 golos em 54 jogos. De resto, se em 2013-14 e 2015-16 marcou 51 golos em 47 e 48 jogos, respectivamente, na época passada marcou 42 em 45 jogos.
Claro que, apesar da quebra são números impressionantes e ao alcance de muito poucos, mas são sinais de que a máquina não é eterna e que pode estar a começar a gripar.
Para marcar o primeiro dos seus dois únicos golos na actual edição da Liga espanhola, Cristiano Ronaldo precisou de cinco jogos, 443 minutos em campo e de 42 remates às balizas adversárias.
Às dúvidas sobre a sua capacidade goleadora, Cristiano Ronaldo tem respondido ora com ironia – “os golos são como o ketchup”, disse em 2010, depois de questionado sobre o facto de estar há dois anos sem marcar em jogos oficiais pela selecção nacional -, ora com rispidez – “Estou super-tranquilo. Fazer uma boa exibição já não conta para vocês [jornalistas], só os golos. Se puserem no Google 'golos do Cristiano Ronaldo' aparecem lá todos. Não estou nada preocupado" – ripostou depois da partida desta época com o Tottenham, a contar para a Champions e na qual... marcou um golo.
A Liga dos Campeões tem sido, até o momento, um bom refúgio para o português (já leva oito golos marcados na prova europeia). Mas no final da época se saberá se a máquina de fazer golos está a começar a gripar, fruto do desgaste natural do tempo, ou se abrandou apenas por causa de um momentâneo grão na engrenagem. Para já, não está a carburar tanto como antes.