Líder da maior associação soberanista é nome de peso na lista de Puigdemont

Junqueras escreve ao partido a partir da prisão: na sua ausência, Rovira é a mulher no poder, e apesar das listas diferentes, ainda reconhece o president.

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Sànchez, detido há um mês, abandona a liderança da ANC dois anos e meio depois de ser eleito Mariscal/EPA

No mesmo dia em que o ex-presidente da Generalitat Artus Mas acusou a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) de ter deixado “sozinho” Carles Puigdemont, a lista encabeçada pelo líder destituído ganhou um novo membro. Jordi Sànchez não é um independente qualquer: para concorrer, em segundo lugar, logo atrás de Puigdemont, abandona a presidência da Associação Nacional Catalã, o grupo que mobilizou o independentismo até este entrar nos programas dos partidos.

Sànchez, até agora líder da Associação Nacional Catalã, está detido há exactamente um mês, em prisão preventiva com outro Jordi, Cuixart, que dirige a Òmnium Cultural. Ambos são acusados de “sedição” por causa de uma manifestação no dia 20 de Setembro em Barcelona.

Numa mensagem enviada aos associados da ANC e escrita na prisão de Soto Real, Sànchez recorda que teria que abandonar a presidência da organização entre Janeiro e Fevereiro. “Talvez por isso e pelas circunstâncias excepcionais que o país vive desde 27 de Outubro – quando o parlamento declarou a independência – aceitei o pedido do presidente Puigdemont de assumir com ele e com outros o repto de renovar a maioria parlamentar e de governo no nosso país, com o objectivo de continuar a avançar em legítima defesa da república catalã”, escreve.

Aos olhos de muitos independentistas catalães, é a ANC, mais do que qualquer partido, que representa a liderança moral do processo, depois de anos a defender a república por toda a Catalunha, com o ponto mais mediático desse trabalho a acontecer a cada 11 de Setembro, na Diada, com manifestações que chegaram a juntar dois milhões de pessoas.

A lista Juntos pela Catalunha (mesmo sem uma coligação com a ERC, o PEeCAT e Puigdemont preferiu uma lista sem a sigla do partido, com enfâse no soberanismo e aberta à sociedade) ganha assim um apoio que pode acabar por mudar as intenções de votos de muitos catalães, numa altura em que ERC lidera todas as sondagens e o PDeCAT perdia votos e deputados.

Noutra carta escrita da prisão, esta assinada pelo líder dos republicanos, Oriol Junqueras (detido com sete outros conselheiros, acusados, como todo o governo destituído de “rebelião, sedição e desvio de fundos") afirma que apesar de encabeçar uma lista própria nas eleições de 21 de Dezembro, o seu “candidato também é o presidente legítimo, Carles Puigdemont”.

Ora, num comentário a estas afirmações, Artur Mas notou que se Junqueras quer “sublinhar a legitimidade” de Puigdemont “não o pode deixar sozinho”. Enquanto o processo soberanista estiver por resolver, defendeu o antigo líder catalão num colóquio, o soberanismo deve optar por uma “união de forças, pela acção conjunta e a cooperação”. Ou seja, fazer o que Puigdemont propôs quando quis reeditar a coligação Juntos pelo Sim e abri-la a mais independentes. As listas completas só se conhecerão esta sexta-feira, prazo legal para serem apresentadas.

Junqueras dirigiu-se aos membros do seu partido numa missiva em que pede união e força. Sugerindo que poderá permanecer na cadeia por algum tempo, assinala Marta Rovira, secretária-geral da ERC, como uma espécie de líder em liberdade. “Sempre empenhada, resolvendo dificuldades e superando todo o tipo de obstáculos; sem ela nada teria sido possível”, diz, em relação ao processo que levou ao referendo sobre a independência. “Vai sendo tempo que neste país haja uma mulher à frente, uma mulher que não se rende. […] República tem nome de mulher”, escreveu.

Tarefas administrativas

O mais que provável vencedor das eleições autonómicas assume desta forma dificilmente ele ou Puigdemont estarão na tomada de posse do novo parlamento em Janeiro. Na véspera da sua primeira audiência com o juiz da Câmara do Conselho (primeira instância) de Bruxelas que vai decidir sobre a ordem europeia de detenção contra si e quatro dos seus ex-conselheiros, Puigdemont deu uma entrevista onde diz esperar que se abra “uma nova etapa de negociações” depois da ida às urnas.

Quem também espera voltar em breve a um tribunal é o ex-major dos Mossos d’Esquadra, Josep Lluís Trapero, afastado do cargo depois de acusado de “sedição” no mesmo processo dos Jordis.

Depois de comandar uma força de 17 mil polícias catalães, e enquanto se prepara para ver o seu processo transferido da Audiência Nacional para o Supremo, o Ministério do Interior fez saber que destinou a Trapero “tarefas administrativas”. O major passa agora os seus dias atrás de uma secretária já não no complexo que abriga o comando da força catalã, mas em Corts, onde estão os serviços centrais de Barcelona.

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