Ordem dos Nutricionistas anuncia congresso sem patrocínios

Bastonária defende que um debate “profícuo e isento” só pode acontecer sem marcas a pagar.

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Daniel Rocha

O Congresso da Ordem dos Nutricionistas, que se realiza dias 21 e 22 de Novembro no Centro Cultural de Belém, não terá quaisquer patrocínios da indústria alimentar, anunciaram os organizadores – que dizem mesmo que “é o primeiro em todo o mundo” a conseguir isso.

Para fazer face aos custos de organização, a Ordem conta com os valores das inscrições e entra com uma verba própria. O anúncio surge depois de em Maio ter havido críticas à presença bastante evidente de várias marcas no XVI Congresso de Nutrição e Alimentação organizado pela Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN).

"Grande debate envolvendo todo o sector"

“Queríamos reunir grandes especialistas nacionais e internacionais e muitos deles não falam em congressos que tenham associadas marcas”, explicou ao PÚBLICO a bastonária da Ordem, Alexandra Bento, sobre o congresso deste mês. Esta é uma das razões, mas há outras: “Queríamos fazer um grande debate envolvendo todo o sector alimentar e isso inclui também as marcas, a indústria, a restauração, a distribuição. E um debate profícuo e isento só pode acontecer num ambiente sem patrocínios.”

A isto soma-se o facto de a Ordem existir por delegação de competências da Assembleia da República e para “auxiliar o Estado na definição das políticas alimentares”, o que, sublinha Alexandra Bento, implica que mantenha “a isenção e imparcialidade”.

Quando surgiu a polémica relativa ao congresso de Maio, o PÚBLICO ouviu os organizadores da APN que rejeitaram a ideia de um conflito de interesses e afirmaram não existir interferência das empresas na construção dos conteúdos científicos. Na altura, a bastonária defendeu a necessidade de se criar “um código de conduta e de boas práticas” no sector, sublinhando que era algo que “ainda não existe em Portugal" e declarando que a Ordem está disponível para participar nesse debate.

Passados seis meses, o debate já está a acontecer? “Cada organização ou associação decidirá o que deve fazer nos eventos que realiza”, responde Alexandra Bento. “Porém, já existe um debate generalizado a nível internacional sobre a responsabilidade de instituições que organizam eventos científicos.” Isso não significa que não possam existir patrocínios, salienta, “mas é preciso que se criem regras”.

Também em Portugal, o tema “está na ordem do dia”. De qualquer forma, acrescenta, “é importante que haja momentos em que os profissionais de saúde tenham contacto directo com as marcas para conhecer os respectivos produtos”. E sublinha que a Ordem “não está a trabalhar de costas voltadas para a indústria” até porque “é importante que nestes eventos estejam indivíduos de todas as áreas e sectores”. Caso contrário, conclui, “o debate não se dá”.

Durante os dois dias do Congresso da Ordem dos Nutricionistas serão discutidas questões como as políticas alimentares e nutricionais na Europa e em Portugal, a evidência científica, o direito da Humanidade a uma alimentação adequada (com Francisco Sarmento em representação da FAO Portugal, o escritório nacional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a nutrição e as doenças crónicas e, no final, antes da entrega do Prémio Mérito Jovem Nutricionista, haverá um debate com o tema “Sector alimentar e compromisso com a saúde: colaboração ou conflito?”. 

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