Fallon foi o primeiro a cair no escândalo que envergonha Westminster
Há mais dois membros do Governo a ser investigados por comportamentos impróprios, numa avalancha de denúncias que incluem também assédio e violação.
Começaram por ser rumores, depois vieram as acusações que rapidamente deram origem a nomes e, em poucos dias, um ministro teve de demitir-se e outros dirigentes do Partido Conservador estão sob pressão para lhe seguirem o exemplo. O Parlamento britânico foi engolido pelas réplicas do escândalo de abusos sexuais protagonizado pelo produtor norte-americano Harvey Weinstein, num caso que ameaça desestabilizar ainda mais o Governo de Theresa May.
Para tentar minimizar estragos, a primeira-ministra britânica não hesitou muito antes de desfazer-se de Michael Fallon, um aliado e um dos ministros mais experientes do actual executivo. O ministro da Defesa já tinha pedido desculpa à jornalista Julia Hartley-Brewer por lhe ter posto repetidamente a mão no joelho durante uma conversa em 2002, num incidente que a própria descrevia como resolvido. Mas nos corredores de Westminster começaram a surgir histórias de casos mais recentes, incluindo o de uma jornalista a quem ele terá insultado, e Fallon não terá tido alternativa se não afastar-se – por iniciativa própria ou, como suspeita a imprensa, acatando a decisão de May.
Na carta de demissão ele próprio escreveu que foram postas a circular outras acusações e, apesar de negar a maioria, admite que o seu comportamento “nem sempre esteve à altura dos padrões elevados exigidos às Forças Armadas” que chefiava. “A cultura mudou. Aquilo que era aceitável há dez ou 15 anos já não o é hoje”, disse numa entrevista à BBC, num comentário que Hartley-Brewer considerou lamentável: “Nunca foi aceitável colocar a mão no joelho de alguém por baixo da mesa sem permissão”.
A primeira-ministra optou por substituir rapidamente Fallon, nomeando para o lugar Gavin Williamson, o pouco experiente mas muito ambicioso líder da bancada parlamentar dos tories, desvalorizando apelos como os de Ruth Davidson, a líder dos conservadores escoceses, que lhe tinha pedido para aproveitar a remodelação e extirpar do governo a “cultura de balneário” que diz ainda vigorar na política britânica.
Uma referência à suspeita lançada contra outros membros do Governo, incluindo o vice-ministro Damian Green, acusado por uma militante do partido de a ter tocado indevidamente num bar, em 2015, e de um ano mais tarde lhe ter mensagens sexualmente explícitas. Green, que May chamou ao Governo depois do desaire nas últimas legislativas, negou as acusações e prometeu colaborar com o inquérito ordenado pela primeira-ministra, mas no partido várias vozes insistem que ele deveria afastar-se pelo menos até à conclusão das investigações.
Também sob investigação está Mark Garnier, secretário de Estado para o “Brexit”, que já admitiu ter pedido a uma secretária para lhe comprar objectos numa sex-shop e a quem tratava por “maminhas de ouro”. O seu nome é um dos 40 que surgem numa lista, supostamente elaborada por funcionárias e assessoras do Parlamento, de deputados e ministros conservadores que teriam tido comportamentos impróprios.
Apesar de na maioria serem casos sem gravidade ou pouco mais de mexericos (alguns dos quais já desmentidos), o furor mediático causado pela lista acabou por gerar novas denúncias, entre elas a de uma assessora parlamentar que contou ao Guardian ter sido atacada sexualmente por um deputado durante uma viagem de trabalho em 2015. E o escândalo não se confina ao partido no poder: Bex Bailey, uma conhecida activista do Labour, revelou que foi violada por um responsável do partido em 2011, tendo sido mais tarde aconselhada por outro dirigente a manter-se em silêncio.
Confrontada com a avalancha de denúncias, May convidou os líderes de todos os partidos para uma reunião na próxima segunda-feira para, em conjunto, decidirem “uma resposta séria, rápida e transversal” a estes casos, sejam de assédio ou de comportamentos impróprios e defendeu a criação no Parlamento de um mecanismo célere para investigar as denúncias. Medidas que podem não ser suficientes para, como defendeu Davidson, “pôr fim ao sentimento de quem acha que pode usar as suas posições de poder para exigir coisas dos outros”.