Alunos vão mesmo fazer o novo exame de Matemática A sem terem ideia de como será a prova

Iave descarta possibilidade de elaborar uma prova modelo e garante que "não vai introduzir surpresas" no exame.

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O exame de Matemática A vai ser feito, pela primeira vez, à luz do novo programa da disciplina Paulo Pimenta

O presidente do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), o organismo responsável pela elaboração dos exames nacionais, pôs de lado, nesta segunda-feira, a hipótese de vir a ser elaborada uma prova modelo do exame de Matemática A do 12.º ano, que em 2018, pela primeira vez, terá na base o novo programa da disciplina.

Hélder de Sousa, que interveio no debate promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sob o tema Exames: Como e Para Quê, respondia assim a esta afirmação do professor da Universidade de Coimbra, Jaime Carvalho e Silva: é “um escândalo que o novo exame de Matemática A se realize sem que antes haja uma prova modelo”. “Os alunos e professores estão a viver uma situação de grande instabilidade porque ninguém sabe o que vai sair no exame”, justificou.

O presidente do Iave referiu que a elaboração de “provas modelo foi abandonada há muitos anos em Portugal”, embora os alunos possam treinar com base nos exames realizados em anos anteriores. “Se o programa for leccionado como deve ser não vai haver problemas. O Iave não vai introduzir surpresas na prova, que terá de funcionar como um denominador comum do antigo [porque há alunos que chumbaram no ano lectivo passado e vão ter de realizar de novo o exame] e do novo programa”, garantiu.

A Associação de Professores de Matemática (APM), de que Jaime Carvalho e Silva também é dirigente, chamou já a atenção, por várias vezes, para o facto de os alunos irem fazer um exame do qual não têm qualquer referencial e que tem na base um programa que, pela sua extensão, tem gerado “dificuldades generalizadas na leccionação, com capítulos que ficam por dar”.

No debate desta segunda-feira, Jaime Carvalho e Silva, que está a finalizar um estudo comparado dos exames em 12 países, incluindo Portugal, sublinhou que apesar da diversidade de modelos, em muitos outros sítios, ao contrário do que se passa por cá, “existe sempre uma definição muito clara do que vai sair na prova de exame”. Os alunos estão, por isso, informados do “que se espera que saibam fazer” naquelas provas.

Antes, o director da Escola Secundária Camões, em Lisboa, João Jaime, lembrou que as únicas provas nacionais que são feitas por todos os alunos são as que se realizam a Português e Matemática no final do 9.º ano. “No ensino secundário já há quase 50% dos alunos que estão afastados dos exames”, afirmou, referindo-se aos alunos do ensino profissional que só são obrigados a realizar estas provas se quiserem prosseguir estudos para o ensino superior. “E quando assim é, têm de fazer exames a disciplinas que nunca tiveram durante os seus cursos”, acrescentou Jaime Carvalho e Silva.

Este modelo está a ser revisto pelo Ministério da Educação com o objectivo de permitir que os estudantes do ensino profissional possam candidatar-se ao superior realizando apenas o exame que funciona como prova de ingresso para o curso escolhido, deixando este de contar para o cálculo da média do ensino secundário.

Provas de aferição

Com base no estudo que está a elaborar, Jaime Carvalho e Silva concluiu que quase “todos os países têm algum tipo de exames nacionais, sendo que a maioria realiza exame no final do ensino secundário”. Por outro lado, acrescentou, são cada vez mais os que estão a adoptar também as provas de aferição, que não contam para a nota dos alunos, mas que servem de fonte de “informação sobre o desempenho do sistema de ensino”.

Em Portugal, estas provas voltaram no ano lectivo passado, tendo sido realizados pelos alunos do 2.º, 5.º e 8.º ano de escolaridade. “Fiquei muito surpreendido com as reacções aos resultados destas provas e com o anúncio de medidas” na sequência destes, disse, lembrando que esta foi só a primeira edição e que antes do mais é preciso saber se as provas foram bem elaboradas.

Cerca de 80% dos alunos do básico não conseguiram responder ao que era esperado deles, o que levou o Ministério da Educação a anunciar o reforço da formação contínua dos professores.

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