Montenegro não avança nem se põe ao lado de ninguém

Ex-líder parlamentar anuncia que vai manter "total equidistância" face às candidaturas à liderança do PSD que surgirem.

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Luís Montenegro era visto como o herdeiro do passismo Daniel Rocha

O ex-líder parlamentar do PSD decidiu não ser candidato à liderança do partido. Luís Montenegro, em comunicado enviado às redacções, invoca razões “pessoais e políticas” para não avançar e assegura que manterá uma posição de “total equidistância” face às candidaturas que surgirem.

“Após a reflexão que fiz, entendo que, por razões pessoais e políticas, não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito [de ser candidato]”, lê-se no comunicado divulgado esta quinta-feira à noite. Luís Montenegro deixa um apelo para as próximas semanas: “É determinante que PSD não fulanize o debate interno e que seja capaz de discutir as ideias e os projectos” que apresentará aos portugueses.

O deputado irá participar “activamente” no debate interno, mas, ao mesmo tempo, manterá “total equidistância face às candidaturas que vão surgir”, embora sem se furtar a “dar contributos e a partilhar reflexões que os candidatos aproveitarão, se assim o entenderem”.

Além de agradecer os contributos, manifestações de apoio e incentivo, que lhe chegaram nos últimos dias, Luís Montenegro lembra que irá exercer o direito de voto nas eleições directas como qualquer militante e que participará no congresso que se seguirá.

Outra das figuras que se mantém em reflexão, sobre a possibilidade de se candidatarem, é o eurodeputado Paulo Rangel. O vice-presidente do PPE e ex-adversário de Passos já tem garantido um apoiante de peso - Miguel Relvas, ex-comandante da candidatura de Passos em 2010 contra... Paulo Rangel. Segundo confirmou o PÚBLICO, o ex-ministro, um homem ainda com peso no aparelho social-democrata, não hesita em dar uma ajuda a Rangel, ao ver o seu candidato preferido – Luís Montenegro – de fora da corrida. Essa ajuda corresponde ao sentimento comum à maioria dos que se mantiveram próximos de Passos Coelho: o objectivo é remar contra Rui Rio, tentando evitar o que é visto como uma viragem total da estratégia do partido.

Numa entrevista ao Expresso, Relvas já tinha mostrado que essa era a prioridade. "Rui Rio teve dois momentos: devia ter sido candidato quando foi Ferreira Leite - e não quis. E quando Passos o convidou para candidato à Presidência - também não quis". 

Na quarta-feira, Hugo Soares (o actual líder parlamentar do partido, sucessor e amigo de Montenegro) deu sinal de que também o PSD pró-Passos está alinhado neste objectivo, numa ida à SIC-Notícias: "O dr. Rui Rio parece-me ter-se vindo a preparar... Confesso que, numa primeira impressão, ele traz aquilo que o PSD no passado teve (...). O PSD não precisa de mudar. O PSD precisa de credibilizar a sua mensagem política, de reforçar a sua mensagem política", afirmou, já depois de dizer que "quem suceder a Passos Coelho e entender que deve fazer uma ruptura está a cometer um erro crasso, está a perder o eleitorado que deu uma vitória ao PSD". 

No dia do Conselho Nacional em que Passos Coelho anunciou que não se recandidatava à liderança do PSD, Paulo Rangel escreveu no PÚBLICO que o PSD não deve seguir num caminho de "recriminação do passado" e disparou contra parte do discurso de Rui Rio nos últimos meses, que põe em causa a excessiva autonomia do Ministério Público: "O PSD tem de ser inflexível na defesa da independência dos tribunais e da liberdade de imprensa e de expressão". Já na reunião, disparou contra a lógica de bloco central que muitos atribuem ao ex-autarca (significando aproximação a António Costa e uma ruptura total com a estratégia de Passos). Isso valeu-lhe um apoio imediato: o de Marco António Costa, outro dos que acompanharam o ainda líder do princípio ao fim.

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