Tancos: Marcelo diz-se preocupado com o "tempo do apuramento dos factos"
Presidente da República visitou uma das unidades do perímetro da base, com o ministro e o chefe de Estado Maior do Exército, mas só falou em Lisboa. Averiguações internas ao furto de material militar já terminaram, as criminais ainda não.
O Presidente da República declarou-se esta segunda-feira preocupado com o tempo do apuramento dos factos e responsabilidades no caso do furto de material militar dos paióis de Tancos, em Santarém. "Não só é importante apurar factos e eventuais responsabilidades, como apurar num tempo que seja um tempo o mais curto possível, por um lado, para o prestígio da instituição militar, e por outro lado também para a própria actuação interna da instituição militar", afirmou o chefe de Estado em Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa tinha visitado uma das unidades da base militar de Tancos pouco antes, acompanhado do ministro da Defesa e do chefe de Estado do Exército (CEME), mas no local optou por não responder aos jornalistas que o acompanharam.
Chegado a Lisboa, onde visitou a associação Acreditar, de apoio a crianças e jovens com cancro, justificou-se: “Não quis dizer nada lá, porque estava de visita a uma unidade, que era o Regimento de Paraquedistas e não queria confundir com outra situação". Mas foi claro: "Estou atento, acompanho o que se passa, e preocupa-me o tempo".
Sobre o assalto, frisou: “Passaram dois meses e uma semana e eu continuo a acreditar que as entidades encarregadas da investigação criminal estão conscientes da importância do tempo […] e de como as conclusões da investigação são importantes, para as Forças Armadas e até para a própria investigação por parte das Forças Armadas em termos internos".
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que ele próprio considerou, logo de início, "que era preciso apurar tudo de alto a baixo, completamente, exaustivamente, quanto aos factos e responsabilidades". Hoje pôs pressão para que tal aconteça com brevidade: "O tempo do apuramento, respeitando a iniciativa das entidades de investigação criminal, é um tempo importante. É isso o que eu tenho a dizer neste momento, passados dois meses e uma semana”.
Os paióis de Tanco, onde ocorreu o furto verificado no final de Junho, eram supervisionados pelas cinco unidades do perímetro daquela base militar. Uma delas é o Regimento de Paraquedistas, que o Presidente da República visitou, exactamente dois meses de ter ali se ter deslocado quase de surpresa, levando consigo o ministro da Defesa e o CEME, numa altura em que o primeiro-ministro se encontrava de férias.
Se na altura falou aos jornalistas para dizer que a visita tinha sido “muito útil” para reunir informação sobre o assalto – e mais tarde ter considerado que agira “no limite das suas competências - desta vez optou pelo silêncio no local.
Mas durante duas horas, o tempo que demorou a visita que se enquadra numa série de outras que tem efectuado a instalações militares, Marcelo Rebelo de Sousa teve oportunidade para trocar informações com Azeredo Lopes, com Rovisco Duarte, e até com o comandante do Regimento de Paraquedistas, um dos cinco militares “exonerados temporariamente” pelo CEME a seguir ao assalto, durante as averiguações internas. Os cinco comandantes – responsáveis pelas unidades que dividiam a segurança dos paióis – foram renomeados a 17 de Julho.
Investigações internas concluídas
As investigações internas pedidas pelo ministro da Defesa e pelo Exército sobre o furto de material militar de Tancos já estão concluídas e devem ser parcialmente reveladas esta semana, pelo menos no que diz respeito aos processos disciplinares já abertos, apurou o PÚBLICO.
O ministro da Defesa recebeu no final da semana passada o último dos quatro relatórios sobre a segurança dos paióis nacionais, pedidos a cada um dos ramos militares e à Inspecção-Geral da Defesa Nacional, como confirmou ao PÚBLICO o assessor de Azeredo Lopes. Tendo em conta a informação recebida, compete agora ao ministério analisar a informação e decidir em conformidade.
Essa informação pode ser decisiva para a transferência do material de guerra dos paióis de Tancos, que está em curso. No Exército foram também já concluídos os três processos de averiguações internas ordenados pelo CEME, e na sequência deles já foram instaurados processos disciplinares, confirmou ao PÚBLICO o porta-voz do Exército, Vicente Pereira.
Os processos de averiguações centraram-se no Regimento de Infantaria 1, a unidade militar que na altura do assalto era a responsável pela segurança dos paióis, e incidiram sobre a videovigilância, a intrusão e a gestão de cargas (material ali armazenado). E são totalmente independentes das investigações criminais, que estão a cargo da Polícia Judiciária Militar.