O "ataque sónico" à embaixada dos EUA em Havana provocou lesões em 16 diplomatas

A investigação ao inusitado caso que envolve a exposição a ultra-sons continua. Estão confirmadas lesões em 16 pessoas. Washington não responsabilizou directamente o regime cubano pelo incidente.

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Embaixada dos EUA em Havana reabriu em Agosto de 2015 Reuters/POOL

O Departamento de Estado norte-americano informou que pelo 16 dos seus funcionários diplomáticos que trabalhavam na embaixada dos Estados Unidos em Havana receberam tratamento médico por perda de audição, lesões cerebrais e outros sintomas ao nível do sistema nervoso central, que estão a ser atribuídos à exposição a ultra-sons, possivelmente emitidos por equipamentos de espionagem.

A diplomacia americana confirmou, em meados de Agosto, que o seu pessoal em Havana terá sido alvo de um “ataque acústico”, deliberado ou acidental: uma investigação concluiu que dezenas de pessoas tinham sido expostas a um sinal acústico fora da gama audível do espectro sonoro, alegadamente emitido por equipamentos de escutas. O Governo de Cuba negou qualquer responsabilidade no caso, e abriu uma investigação.

O secretário de Estado, Rex Tillerson, considerou o ataque “horrível”, e a porta-voz do departamento, Heather Nauert, referiu-se a uma situação “sem precedentes”. Um inquérito dos serviços secretos dos Estados Unidos e do FBI está em curso: de acordo com Nauert, a fonte dos ultra-sons ainda não foi determinada oficialmente.

Segundo a Associated Press, os investigadores já estabeleceram que os diplomatas podem ter sido atacados deliberadamente, através da colocação de um dispositivo sónico no interior ou exterior das suas residências, ou então “expostos por acidente a um mecanismo que os fez sofrer sintomas severos”. Entrevistado pela CNN, James Lewis, um antigo dirigente do serviço diplomático e actual vice-presidente do Center for Strategic and International Studies, disse que uma possibilidade era que o sinal acústico resultasse da “má configuração” de equipamento de espionagem.

Os diplomatas americanos começaram a exibir sintomas como dores de cabeça, náuseas, perda de audição e desequilíbrios no final de 2016. Um ano antes, os Estados Unidos e Cuba tinham iniciado um processo histórico de reaproximação após cinco décadas de hostilidade. a embaixada norte-americana em Cuba reabriu em Agosto de 2015 e o Presidente Barack Obama realizou uma visita oficial a Havana em Março de 2016.

Os sintomas começaram a aparecer depois das eleições presidenciais e da vitória de Donald Trump, que prometeu reverter a política de normalização das relações com Cuba. Um médico citado pela Reuters, que esteve envolvido nos exames aos diplomatas americanos, confirmou que foram diagnosticadas lesões cerebrais e danos no sistema nervoso central, e perda de audição que obriga ao uso de aparelhos auditivos.

Entretanto, o Canadá confirmou que um dos seus diplomatas em Havana manifestou sintomas semelhantes e está a receber tratamento médico.

Os EUA não responsabilizaram o regime cubano pelo caso, mas sublinharam que Havana tem a obrigação de garantir a segurança das embaixadas estrangeiras e respectivo pessoal. Dois diplomatas da embaixada de Cuba em Washington foram expulsos do país em retaliação pelo incidente.

Um dos cenários que os investigadores não excluem é do envolvimento de terceiros. “Um nome de que se ouve falar repetidamente é o da Rússia”, disse uma fonte da investigação à Associated Press.

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