A extrema-direita americana mostrou a sua força na Virgínia
Governador declarou estado de emergência por causa de confrontos que causaram pelo menos uma vítima mortal em Charlottesville. Donald Trump manteve-se silencioso durante um tempo incomodamente longo.
O governador da Virgínia declarou estado de emergência em Charlottesville, devido à realização da maior manifestação de extrema-direita dos últimos anos nos EUA. Já depois de a polícia ter dispersado os manifestantes — e muitos contramanifestantes — um carro atropelou pelo menos dez pessoas que tinham estado em confronto com os grupos de extrema-direita, fazendo um morto e vários feridos, segundo o presidente da câmara, Mike Signer, e um hospital da cidade. O condutor do automóvel foi detido, segundo o jornal USA Today.
Insane photos from a @DailyProgress staffer, who was there right as a car struck dozens of protesters: https://t.co/jMGuXcPyVA pic.twitter.com/n1Hg95v9wM
— Jake Jarvis (@NewsroomJake) 12 de agosto de 2017
A cidade de Thomas Jefferson, um dos fundadores dos Estados Unidos, tornou-se este fim-de-semana a capital dos supremacistas brancos, saudosistas nazis, membros da Ku Klux Klan, activistas da alt-right e demais grupos da extrema-direita norte-americana, onde eram esperados cerca de 6000 manifestantes – e contramanifestantes – a pretexto da recente remoção de uma estátua do general sulista Robert E. Lee, que comandou as forças da Confederação na Guerra da Secessão dos EUA, de 1861-65.
A polícia acabou por declarar este protesto uma "reunião ilegal", e usou gás lacrimogénio e gás de pimenta para dispersar os manifestantes, que se envolveram em confrontos, descritos como “extremamente violentos” por jornalistas no local.
Clash between protesters and counter protesters. Police says "We'll not intervene until given command to do so." #Charlottesville pic.twitter.com/UkRDlNn2mv
— ACLU of Virginia (@ACLUVA) August 12, 2017
Na sexta-feira à noite, como um aperitivo assustador do ressurgimento dos grupos de extrema-direita nos Estados Unidos, cerca de mil militantes que participam no protesto Unite the Right juntaram-se para uma marcha à luz de tochas que entrou no campus da Universidade da Virgínia, com cânticos fascistas, como “sangue e solo" e "um povo, uma nação, acabem com a imigração" e envolveram-se em confrontos com contramanifestantes.
David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan – e apoiante de Donald Trump, ainda que este tenha acabado por rechaçar o seu apoio – esteve também em Charlottesville. E ainda declarou que esta manifestação “cumpre as promessas de Trump”.
David Duke today in #Charlottesville talking how how the hate rally "fulfills the promises of Donald Trump." pic.twitter.com/nvldJpykvA
— Joanna Robinson (@jowrotethis) August 12, 2017
Segundo o Southern Poverty Law Center, uma organização que investiga crimes de ódio e racismo desde os anos de 1960, a maior organização nazi dos EUA participou nesta manifestação, o Movimento Nacional Socialista. O objectivo, diziam numa convocatória no Facebook, é “unir a direita contra o avanço do comunismo totalitário, protestar contra as políticas de imigração dos EUA e da Europa e afirmar o direito dos sulistas e dos brancos de organizarem os seus interesses como qualquer outro grupo pode fazer, sem serem perseguidos”.
É um discurso que mostra uma construção de uma verdadeira realidade paralela, baseado numa visão racista, em que quem se define como branco – e sulista, com todo o peso que isso tem na história dos EUA – se sente acossado pelos valores da sociedade actual. E que considera os imigrantes, e refugiados, como uma ameaça ao seu modo de vida.
To be clear, these are NOT national guard but racist private militias posing as state actors to protect nazis and provoke. pic.twitter.com/PuoHNmXRpg
— Tom Perriello (@tomperriello) August 12, 2017
O patriotismo e a violência misturaram-se de forma desconfortável: homens armados, com uniformes de tipo militar, formando milícias, outros com escudos e capacetes, juntaram-se a hipsters de barba farta vestidos de fato completo branco, como um senhor sulista à antiga, para expressar a sua pertença a esta revolução de extrema-direita. Se não adeptos, tem ganho pelo menos visibilidade, com as redes sociais, o advento do tendencioso site de notícias Breitbart (que foi dirigido pelo actual estratega da Casa Branca Stephen Bannon) e, claro, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca.
A falta de uma intervenção do Presidente dos EUA sobre a manifestação – pelo menos enquanto se estava a passar – foi bastante comentada. A primeira pessoa da Casa Branca a expressar-se sobre o sucedido, sublinhava a CNN, foi, surpreendentemente, a primeira-dama, Melania Trump. “Não comuniquemos com ódio no coração. Nada de bom vem da violência”, disse no Twitter, usando a hashtag #Charlottesville.
We ALL must be united & condemn all that hate stands for. There is no place for this kind of violence in America. Lets come together as one!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 12, 2017
Donald Trump só o fez quase uma hora depois: “Todos devemos unir-nos e condenar o ódio. Não há lugar para esta violência na América. Vamos unir-nos". Mais tarde, o Presidente dos EUA acrescentou que condenava as violência de "várias partes".