Alemanha revê venda de armas para a Turquia, país aliado da NATO

O perigo de aplicar castigos demasiado duros a Ancara é a Turquia passar para esfera de influência russa, diz um analista sobre a crise aberta devido à prisão de mais um alemão.

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Erdogan criticou a Alemanha e disse que o país se devia "recompor" YASIN BULBUL/Reuters

A Alemanha anunciou que vai rever as exportações de armas para a Turquia, seu aliado na NATO, na sequência da reorientação da política de Berlim face a Ancara anunciada na véspera pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel.

No plano das declarações, o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, comparou o que se passa hoje na Turquia à antiga República Democrática Alemã (RDA): “Quem viajava para lá sabia: se acontecesse alguma coisa, ninguém podia ajudar”, disse, numa entrevista ao diário de grande circulação Bild.

O mais recente episódio de tensão entre Alemanha e Turquia ocorreu com a detenção de mais um alemão (neste momento há nove alemães detidos na Turquia), que levou o ministro a desaconselhar viagens ao país e declarar que teria de haver uma mudança na política de Berlim em relação a Ancara.

O ministro turco da Economia, Nihat Zeybekci, disse que esta crise era “temporária” e aconselhava a “cautela com palavras que possam causar danos permanentes às economias” – do lado alemão, especificou.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou que o aviso das autoridades alemãs em relação às viagens para a Turquia não tinha qualquer fundamento. A Alemanha deve “recompor-se”, aconselhou Erdogan num discurso em Istambul.

Mas Berlim anunciou, através do Ministério da Economia, que está a rever as exportações de armas para a Turquia. Já após a tentativa falhada de golpe de 15 de Julho 2016 na Turquia (e a repressão que se lhe seguiu), a Alemanha tem dedicado especial cuidado à análise das vendas de armas, disse o porta-voz.

No ano passado, a Alemanha aprovou a venda de armas no valor de 83,9 milhões de euros e, nos primeiros quatro meses deste ano, no valor de 22 milhões de euros, segundo a agência Reuters. Um especialista militar contactado pela emissora alemã Deutsche Welle diz, no entanto, que mesmo se a Alemanha suspendesse a venda de armas à Turquia, a medida não teria grande efeito na política de Ancara. E o perigo de castigos demasiado duros, sublinhou, é deixar a Turquia sair para a esfera de influência russa.

“Esperemos que a nossa mensagem tenha passado para o Governo turco”, disse o especialista de política externa do Partido Social Democrata (SPD), Rolf Mützenich. Mesmo se os políticos não quiserem ouvir, “há outros decisores que reconhecem as consequências destas medidas”, sublinhou.

Os alemães são uma grande parte dos turistas que visitam a Turquia, mas o número tem vindo a baixar drasticamente, de seis milhões em 2015 para quatro milhões em 2016, numa tendência geral de decréscimo – no ano passado a Turquia registou o número mais baixo de turistas dos últimos nove anos.

A Alemanha também sinalizou que empresas alemãs na Turquia podem enfrentar dificuldades – Gabriel mencionou mesmo “expropriações arbitrárias por motivos políticos”.

Enquanto isso, Ancara negava que o Governo tivesse enviado a Berlim uma lista de empresas alemãs que apoiam o terrorismo (através de ligações com o líder religiosos Fethullah Gülen, que a Turquia culpa pela tentativa de golpe do ano passado) e os media na Alemanha noticiavam que esta lista incluía não cerca de 70 empresas como inicialmente referido mas sim mais de 600 – de multinacionais como a BASF e a Daimler a empresas unipessoais como uma banca de döner kebabs ou uma loja de conveniência. As autoridades alemãs classificaram a lista como "ridícula" e disseram que a Turquia não respondeu ao seu pedido de mais informação sobre o suposto apoio ao terrorismo por parte das empresas.

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