Coreia do Norte anuncia primeiro teste de míssil "intercontinental", capaz de atingir EUA

"Será que este tipo não tem nada melhor para fazer?", reagiu Donald Trump no Twitter. EUA e Coreia do Sul divergem na avaliação do alcance do míssil, falando sim num projéctil de médio alcance. Japão avisa que "ameaça cresceu".

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Imagens televisivas sobre o lançamento de um novo míssil norte-coreano, captadas em Tóquio EPA/FRANCK ROBICHON
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Imagem do líder sul-coreano, Kim Jong-un Reuters/TORU HANAI

A Coreia Norte realizou nesta terça-feira um novo disparo de um míssil balístico em direcção ao Mar do Japão, disse o comando conjunto das forças armadas sul-coreanas, com Pyongyang a classificá-lo depois como um míssil "intercontinental" de longo alcance - o que, a confirmar-se, eleva a parada das tensões na região.

A primeira avaliação dos EUA e da Coreia do Sul, antes da informação de Pyongyang, identificava um míssil de médio alcance. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, sublinha que este disparo "mostra claramente que a ameaça cresceu" e há analistas a estimar que tal alcance permitiria chegar ao Alasca, nos EUA - que hoje assinalam o seu feriado nacional do dia da Independência.

Kim Jong-un supervisionou pessoalmente o lançamento do míssil, que, segundo a televisão estatal norte-coreana, tem a capacidade de atingir qualquer local do mundo. Tratou-se, diz a mesma fonte, de um míssil Hwasong-14, que atingiu uma altitude de 2802 quilómetros e que atingiu o seu alvo após um voo de 39 minutos. O Hwasong-14 é designado pelos norte-americanos como KN-14, diz a CNN, e consta da infografia abaixo. Tem um alcance máximo de 8000 quilómetros.

Esta é a primeira vez que a Coreia do Norte alega ter lançado um míssil intercontinental com sucesso. O objectivo final é dotá-lo de uma carga nuclear, mas para isso é preciso conseguir produzir ogivas nucleares miniaturizadas e, até agora, os especialistas dizem que o país está ainda longe de o conseguir fazer. 

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O lançamento foi realizado por volta das 9h40 (1h40 em Lisboa), a partir da província norte-coreana de Pyongyang Norte. “O lançamento de teste foi realizado com o ângulo mais afinado possível e não teve qualquer efeito negativo nos nossos países vizinhos”, dizem ainda os media estatais norte-coreanos em comunicado, ao mesmo tempo que frisavam a sua capacidade de atingir qualquer ponto do globo. 

O comando das forças norte-americanas para o Pacífico confirmou o lançamento deste míssil, mas indicara antes que se trata de um projéctil de médio alcance.

O míssil caiu no Mar do Japão e não constitui uma ameaça para a América do Norte, disse o comando norte-americano em comunicado, detalhando que o míssil foi seguido desde o seu lançamento até ao Mar do Japão durante 37 minutos. A Coreia do Sul precisara que este viajou cerca de 930 quilómetros. Estes dados aproximam-se dos avançados pela Coreia do Norte.

Segundo o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, as suas Forças Armadas estão também a investigar a possibilidade de se tratar de facto de um míssil intercontinental. Foi ainda convocada uma reunião do conselho de segurança sul-coreano.

O físico e analista David Wright, co-director do Global Security Program da Union of Concerned Scientists, diz que, olhando para os dados iniciais disponíveis, a trajectória do míssil parecia ser "muito alta" e indicar um percurso de mais de 2800 quilómetros - "esse alcance não seria suficiente para atingir os 48 estados [dos EUA] mais baixos ou as grandes ilhas do Havai, mas permitir-lhe-ia chegar a todo o Alasca", diz no seu blogue, citado pela Reuters.

"Este tipo não tem nada melhor para fazer na vida?"

O lançamento deste míssil surge pouco tempo depois do encontro entre o Presidente norte-americano e o seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, e em vésperas do início da cimeira do G20, na Alemanha. Na manhã desta terça-feira, o Governo de Tóquio já avisou que "as provocações repetidas como esta da Coreia do Norte são absolutamente inaceitáveis", nas palavras de Yoshihide Suga (que ocupa o cargo equivalente ao do ministro português da Presidência). O primeiro-ministro disse, por seu turno, que o Japão se "unirá fortemente" com os EUA  e a Coreia do Sul para continuar a pressionar o regime de Pyongyang, além de estar iminente um telefonema aos presidentes chinês e russo para pedir que "desempenhem um papel mais construtivo", cita a BBC.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, já reagiu na rede social Twitter, questionando se o líder norte-coreano “não tem nada melhor para fazer na vida?”. "É difícil acreditar que a Coreia do Sul e o Japão vão aguentar isto por muito mais tempo", escreveu ainda Trump, acrescentando que talvez a China possa pressionar a Coreia do Norte e "acabar de vez por todas com este disparate".

A Coreia do Norte tenta há anos desenvolver um míssil intercontinental capaz de atingir o seu inimigo norte-americano com ogiva nuclear, apesar de estar proibida por várias resoluções das Nações Unidas de testar ou trabalhar em mísseis. Porém, tem-no feito regularmente – e no passado já tinha disparado mísseis no 4 de Julho, assinalando assim o Dia da Independência norte-americano. Essa actividade intensificou-se nos últimos meses, ignorando a contestação internacional e as ameaças de endurecimento de posições dos seus vizinhos.

O Japão e a Coreia do Sul vão precisamente reunir-se com os EUA já no G20 (que decorre nos dias 7 e 8) para discutir a Coreia do Norte, o que também configura um contexto familiar para os países envolvidos – não é inédito que Pyongyang aumente a sua actividade de testes militares na iminência de conversações sobre os seus programas de mísseis e nuclear. Estes programas constituem um dos mais importantes desafios de política externa para Trump e Moon.

A Reuters recorda que o Presidente Moon, da Coreia do Sul, disse segunda-feira num encontro com Barack Obama, ex-Presidente dos EUA, que esta é “a última oportunidade” da Coreia do Norte para se abrir a conversações com o resto do mundo.  com Lusa

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