Bloco e PCP explicam o que querem em matéria de incêndios e reforma florestal

Após uma "longa reunião" com o primeiro-ministro sobre incêndios, Bloco regista abertura do Governo para acolher ideias bloquistas. PCP também apresentou propostas em conferência de imprensa.

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Partidos estiveram reunidos com primeiro-ministro Marco Duarte / nfactos

O PCP foi a São Bento entregar ao primeiro-ministro um pacote de 38 medidas com soluções para os incêndios florestais e e  afirmar o seu desacordo com a reforma das florestas que o Governo quer discutir no Parlamento até ao dia 19 de Julho.

Em conferência de imprensa que se realizou na sede do partido às 14h30, os comunistas afirmaram que "se a reforma das florestas não está concretizada não é por qualquer capricho" do PCP. "Uma boa parte das medidas [a implementar ao nível da prevenção] não precisa de nova legislação, mas sim de meios humanos e recursos financeiros, alguns bastante avultados", disse João Frazão da Comissão Política.

"Esta reunião com o primeiro-ministro foi profícua. Demos-lhe conta do conjunto de propostas que temos. Naturalmente, o primeiro-ministro ficou de verificar qual a possibilidade e capacidade de acomodar algumas destas propostas. Consideramos que é possível aprovar na Assembleia da República uma lei nos prazos estabelecidos para a discussão da reforma da floresta, que tenha este conjunto de medidas essenciais", disse ainda.

A comitiva do PCP que esteve reunida com António Costa incluía o secretário-geral, Jerónimo de Sousa, o líder parlamentar comunista, João Oliveira, e outros dirigentes como João Frazão e Agostinho Lopes e o deputado João Ramos.

João Frazão, que é membro da comissão política do Comité Central do PCP, condenou a "política de direita" e as imposições externas da União Europeia pelo desordenamento do território em Portugal e pela falta de investimento em infra-estruturas várias e nos serviços públicos.

Abertura do Governo

A delegação do Bloco de Esquerda foi recebida na residência oficial do primeiro-ministro por volta das dez da manhã e fonte bloquista assegurou que da "longa reunião" surgiu "abertura" para acolher ideias do partido.

"Há abertura do Governo para propostas do Bloco que estão nos nossos três projectos de lei na comissão" de Agricultura e Mar, indicou à agência Lusa fonte bloquista, que falou depois de uma reunião de mais de duas horas com o Governo, um encontro presidido pelo primeiro-ministro, António Costa.

O BE tem, actualmente, três projectos de lei em debate na comissão parlamentar de Agricultura e Mar: um para a criação do banco público de terras agrícolas, outro que pede a constituição de unidades de gestão florestal e um terceiro que "estabelece um regime jurídico para as acções de arborização, rearborização ou adensamento florestal".

A Assembleia da República deverá votar até ao final da sessão legislativa, a 19 de Julho, o pacote florestal do Governo e os referidos projectos de lei do BE sobre o mesmo tema.

Travar a eucaliptização

Do lado do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), Manuela Cunha defendeu a necessidade de "travar a eucaliptização" de Portugal para prevenir riscos de incêndios florestais, após encontro com o primeiro-ministro, que esteve "aberto" a propostas.

"É fundamental que se criem as condições para que a floresta portuguesa seja o pilar da prevenção e mais resiliente aos incêndios. Para nós, há uma questão fundamental: travar a eucaliptização deste país. Mesmo nas zonas onde há eucalipto, [há que] rever a forma de instalação no território porque aqui o fogo quando pega não para mais, é um pasto para chamas", afirmou, na sede nacional do PEV, em Lisboa.

Além desta dirigente de "Os Verdes", também se deslocaram ao encontro com o chefe do executivo socialista, António Costa, o deputado ecologista José Luís Ferreira e outra dirigente do PEV, Sónia Colaço.

"'Os Verdes' estiveram na origem de um trabalho durante os dois anos que passaram, com o Governo, no sentido de alterar o regime de arborização e rearborização que deu entrada na Assembleia da República. No entanto, depois, houve alterações por parte do Governo com as quais não concordámos", descreveu, criticando "os interesses instalados da indústria da celulose".

Sobre a reunião, Manuela Cunha afirmou que se concentrou na "política florestal portuguesa" e nas "medidas necessárias alterar e o necessário esclarecimento do sucedido [nos recentes incêndios de Pedrógão Grande e Góis] ao nível da proteção civil".

"Hoje, o Governo, o senhor primeiro-ministro mostrou-se aberto a novas propostas de 'Os Verdes' para serem discutidas e aprovadas para atingir as metas que acabo de falar. Isto é: restringir a mancha e expansão [do eucalipto], reordenar, criar áreas-tampão e promover e incentivar outro tipo de espécies florestais", congratulou-se Manuela Cunha.

Com Sónia Sapage