PSD começa a descolar do discurso dos números

Tanto o líder do partido como o da bancada preferiram atacar outras políticas do Governo como a saúde e o turismo

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Os deputados do PSD estão no Algarve reunidos em jornadas parlamentares LUSA/LUÍS FORRA

O primeiro dia das (prováveis) últimas jornadas parlamentares do líder da bancada do PSD, Luís Montenegro, foi de descolagem do discurso da política económico-financeira. Passos Coelho visitou o centro hospitalar do Algarve e falou de saúde, Luís Montenegro atacou o Governo por ter “duas caras”, uma com os precários, outra com os estágios não remunerados. De fora dos discursos ficaram os números que costumam pontuar a mensagem do PSD.

O líder da bancada, na abertura das jornadas, em Albufeira, fez mesmo o aviso aos deputados: “Não vou falar de política financeira”. A avaliação da política do Governo passou por outros temas. Acusou o executivo de viver em contradições ao tentar integrar os precários e ao mesmo tempo promover estágios não remunerados. “É um Governo com duas caras, uma em que aparece sempre sorridente e a cara do dia-a-dia e que é destes malabarismos e subterfúgios”, apontou.

Os socialistas voltaram ainda a ser o alvo do líder da bancada social-democrata por terem proposto que a decisão de permitir alojamento local em cada imóvel deve pertencer ao condomínio. “Querem matar o alojamento local”, acusou. Com a polémica na agenda mediática, a bancada do PSD está a ponderar apresentar uma proposta sobre alojamento local até porque - como lembrou Montenegro - este negócio do turismo viu os impostos aumentados no Orçamento do Estado para este ano. Já esta quinta-feira a bancada vai usar o agendamento para discutir a proposta sobre transporte através de plataformas electrónicas como a Uber e a Cabify.

Numa sala de um hotel junto ao mar, o líder da bancada também não esqueceu a referência que o seu homólogo socialista fez sobre a escolha de um destino turístico para realizar jornadas do PSD enquanto o PS optou por uma região do interior. “Foi com grande estupefacção” que Montenegro disse ouvir o comentário de Carlos César a que chamou uma “’gaffe monumental’”, já que Bragança (onde se realizaram as jornadas do PS na semana passada) “também é um destino turístico” e esta actividade no Algarve  - como noutras regiões do país – é “potenciadora de riqueza”. Sem nunca referir o nome do líder da bancada do PS, Montenegro dirigiu-se aos algarvios para dizer que o PS “não merece o apoio eleitoral que tem tido nas sucessivas eleições”.

Com o presidente do partido sentado na primeira fila entre os deputados, o líder da bancada assumiu que nem sempre o PSD sabe comunicar as suas propostas, lembrando iniciativas nas duas últimas sessões legislativas, desde que são oposição no Parlamento. “Parece que não temos iniciativa, parece que estamos sempre a falar dos mesmos temas”, afirmou, assumindo que “às vezes” são os próprios a esquecer-se das propostas apresentadas. E deixou um apelo aos deputados para fazerem um “esforço colectivo de afirmação vincada” das ideias. Após a abertura, os deputados estiveram reunidos à porta fechada para fazer balanço do trabalho nas comissões.  

Foi para vincar a sua mensagem sobre saúde que o líder do partido começou o dia a visitar o centro hospitalar do Algarve, onde ouviu representantes dos médicos e enfermeiros. Fez o diagnóstico  - o tempo de espera está a crescer – e defendeu a necessidade de investimento na unidade de saúde, admitindo que “não há dinheiro” para construir um novo hospital. Passos Coelho escusou-se a comentar outros assuntos naquele momento. Nem sequer a possibilidade de o rating do país vir a melhorar como espera o comissário europeu Pierre Moscovici.  

Esta foi uma das 15 visitas que os deputados, organizados por grupos, fizeram na região e que abrangeram a cultura, o poder local, a floresta, o mar, a educação e o ordenamento do território. Desses contactos resultarão oito projectos de resolução para apresentar no Parlamento. É uma viragem para a economia, sem os números de política financeira. 

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