Ataque contra embaixadas em Cabul deixa quase cem mortos

Um camião explodiu durante a hora de ponta no centro da capital afegã, perto de várias embaixadas. Nenhum grupo reivindicou o ataque.

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Não há locais seguros no Afeganistão, que se tornou nos últimos anos campo de batalha entre grupos radicais rivais. A explosão de um camião armadilhado às primeiras horas desta quarta-feira num dos bairros mais protegidos de Cabul causou pelo menos 90 mortos e deixou cerca de 400 feridos, na sua grande maioria civis.

O Afeganistão tem uma longa história de atentados terroristas, mas este ocorreu na zona das embaixadas. Um camião-cisterna conseguiu entrar no 10.º bairro de Cabul, onde se fez explodir, perto da embaixada alemã e da praça Zanbaq. Esta área, conhecida como “zona verde”, é protegida por muros de três metros de altura, que resguardam um local onde estão concentradas muitas embaixadas e o palácio presidencial.

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O ataque ocorreu às 8h25 (4h55, em Portugal continental), em plena hora de ponta, numa altura em que aquela zona costuma ter engarrafamentos por causa dos vários checkpoints policiais em que as viaturas são obrigadas a parar. Com o início do mês do Ramadão também é comum haver mais gente pelas ruas.

Desde o Verão passado, quando um bombista suicida se fez explodir matando mais de cem pessoas – um ataque reivindicado pelo Daesh –, que a capital afegã não via um ataque desta magnitude. “Os terroristas, mesmo no mês sagrado do Ramadão, o mês do bem, das bênçãos e da oração, não páram de matar o nosso povo inocente”, lamentou o Presidente afegão, Ashraf Ghani.

A explosão atingiu os edifícios onde estão sedeadas várias embaixadas, mas de acordo com o porta-voz da polícia, Basir Mujahid, não é possível saber se existia algum alvo específico. “Há muitos outros edifícios e escritórios importantes aqui perto”, disse o responsável à Reuters.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Sigmar Gabriel, revelou que alguns funcionários da embaixada ficaram feridos e que um elemento da equipa de segurança do edifício morreu. “Ataques como este não mudam a nossa determinação em continuar a apoiar o Governo afegão na estabilização do país”, garantiu Gabriel. Entre os mortos está também um motorista que trabalhava há quatro anos para a BBC e um técnico de informática da agência de notícias afegã Tolo.

Deportações suspensas

Por causa do ataque, o Governo alemão anunciou a suspensão do programa de deportações de requerentes de asilo afegãos que viram os seus pedidos recusados. "Os funcionários [da embaixada] têm funções logísticas importantes na recepção das pessoas deportadas", justificou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Porém, a política de deportações posta em curso pela chanceler Angela Merkel em Dezembro não será terminada.

A Amnistia Internacional aproveitou para deixar um apelo a Berlim para que reconsidere a política de expulsões de volta ao Afeganistão de requerentes de asilo cujo pedido não foi atendido. "As deportações não são justificáveis perante estas condições de segurança", declarou a organização de defesa dos direitos humanos.

Não houve qualquer reivindicação por parte das organizações terroristas conhecidas que actuam no Afeganistão. Um porta-voz dos taliban disse que o grupo extremista não foi responsável pelo ataque – apesar de o grupo lançar todos os anos a sua ofensiva da Primavera, para aproveitar a melhoria das condições meteorológicas. Da parte do Daesh não houve qualquer reacção, diz a BBC. Apesar de o seu raio de acção se concentrar sobretudo no Leste do país, o Daesh também tem estado por trás de ataques na capital, incluindo a explosão junto de uma comitiva militar da NATO no início de Maio, em que morreram oito pessoas.

A região de Cabul tem sido especialmente visada pelos últimos ataques terroristas. Os taliban continuam a ser o grupo rebelde mais numeroso e com maior capacidade de acção no Afeganistão, mas o grupo associado ao Daesh, o Khorasan – nome de uma região que engloba o Afeganistão – tem tentado organizar ataques cada vez mais violentos, com o objectivo de ganhar notoriedade num país que lhes é tradicionalmente hostil.

O recrudescimento da situação no Afeganistão está a dar força aos defensores de uma reversão da estratégia de retirada militar norte-americana operada pelo Presidente Barack Obama. Actualmente, os EUA mantêm a presença de 8400 militares, sobretudo elementos das forças especiais e formadores, mas o Pentágono tem em cima da mesa um plano para enviar milhares de soldados para o Afeganistão para apoiar o Exército local na luta contra os taliban. De acordo com alguns especialistas, o Governo afegão tem perdido o controlo de partes do território – calcula-se que cerca de um terço esteja fora da alçada das autoridades oficiais.

Segundo o Washington Post, o Presidente dos EUA, Donald Trump, deveria ter tomado uma decisão quanto ao reforço militar no Afeganistão antes da cimeira da NATO, mas nada foi revelado. 

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