Macron propõe "uma refundação histórica da Europa", Merkel diz "talvez"

Primeira viagem ao estrangeiro do novo Presidente francês foi a Berlim, para retomar os laços do eixo franco-alemão na UE.

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“Não tenho tabus quanto à modificação dos tratados europeus”, disse Macron a Merkel Fabrizio Bensch/REUTERS

Visitar a vizinha Alemanha foi um dos primeiros passos do novo Presidente francês, Emmanuel Macron, que pediu “uma refundação histórica da Europa.” Foi recebido por uma pequena multidão em Berlim, descrita como só comparável à que se juntou para ver Barack Obama. Os líderes dos dois países que estão na base da União Europeia prometeram criar “um novo roteiro” que os leve a aumentar a cooperação bilateral, mas também a “aprofundar a integração europeia”.

As palavras foram de circunstância, mas o jovem Presidente francês, de voz bem colocada, conquistou um estatuto de rock star e brilhou ao lado da chanceler Merkel, vestida de rosa-choque. “Macron disse o que pretende de nós. A Europa não pode estar bem se a França não estiver bem”, afirmou Angela Merkel.

E o que Macron quer é muito. Quer melhores condições para França – “não me esqueci da inquietude, da cólera, da insatisfação dos eleitores franceses, há reformas a fazer para garantir a protecção dos cidadãos”. Isso implica mudanças económicas, sociais e educativas, ao nível da fiscalidade, menos burocracia ao nível da União Europeia.

Falou quase como se esperaria que os seus adversários à esquerda nas presidências (Jean-Luc Mélenchon) ou à direita (Marine Le Pen) falassem, afirmando que a Europa não deve ser ingénua sobre o comércio livre e deve proteger as suas empresas contra a desvalorização dos salários e a deslocalização das empresas.

Ao lado de Merkel, com um discurso talhado para os ouvidos dos franceses, Macron prometeu mais protecção – uma palavra talismã da campanha, usada por Le Pen, da qual ele se apropriou. A Europa deve proteger os cidadãos, e não ser um inimigo, ou um entrave.

O Presidente francês quer fazer uma grande reviravolta na União Europeia. “Não tenho tabus quanto à modificação dos tratados europeus”, afirmou.

O que Macron tem dito é que deseja um “tratado refundador da União Europeia”, que permita uma maior integração da Zona Euro, prevendo a criação de um ministro das Finanças central para os países da moeda única, um orçamento autónomo “com capacidade para conceder empréstimos” e um Parlamento próprio para os países do euro.

O travão de Schäuble

Merkel não se mostrou fechada às propostas de Macron. “Do ponto de vista alemão, é possível modificar os tratados, se isso fizer sentido”, sublinhou. “Há que dar nova coerência à União Europeia, na coordenação da Zona Euro, na cooperação fiscal”, reconheceu, saudando a decisão de realizar um conselho de ministros conjunto, entre a França e a Alemanha, em Julho.

No entanto, as ideias de renovação de Macron já tinham recebido uma luz amarela do temido ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. Numa entrevista publicada no fim-de-semana pela Spiegel, este sublinhou que o novo Presidente francês será um aliado, mas que os seus apelos a grandes reformas da UE são irrealistas. “Todos os países da UE devem tornar-se mais fortes – a Alemanha, a França, a Itália – antes de discutirem como se deve melhorar a comunidade europeia. Essa é que a ordem correcta de se fazer as coisas”, disse Schäuble.

As propostas de Macron não são revolucionárias – recuperam ideias que há muito circulam. E que são espinhosas, como alertou Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, ilustrando os seus riscos com o exemplo dos efeitos da existência de um euroministro das Finanças: “Teria o direito de alterar os orçamentos nacionais? Poderia interferir nas escolhas orçamentais aprovadas pelos Parlamentos de cada país?”, interrogou. “É preciso pensar duas vezes antes de se lançar como um desesperado nesta selva que é uma floresta ultraperigosa”, declarou.

Ao avançar para uma muito maior integração dos países da Zona Euro, que são essencialmente os do Ocidente e Sul da Europa, a criação de um Parlamento da Zona Euro, ou um ministro das Finanças comum, concretizaria a Europa a duas velocidades e consagraria uma das várias linhas de fronteira que hoje dividem a Europa. Deixaria de fora sobretudo as nações do Centro e Leste europeu, cavando a fractura que mais se alarga hoje na UE.

O receio de ficar para trás é real nos países a Leste, que por outro lado se têm distanciado das nações do Ocidente em termos políticos. Em Março, os países de Visegrado – Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia – reuniram-se para exigir “um tratamento justo” para todos” e protestar contra “a discriminação com base na moeda”. 

 

 

 

 

 

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