Uma comédia pessoal

Master of None regressa ao Netflix para uma segunda temporada.

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Ansari durante as filmagens da segunda temporada de Master of None Getty Images

Há sempre qualquer coisa de pessoal nas séries de comédia que são da autoria dos seus protagonistas. Seinfeld, a comédia sobre nada, tinha qualquer coisa da vida de Jerry Seinfeld (e de Larry David, que iria mostrar as suas manias em Curb your Enthusiasm), Louie é Louis C.K. em todo o seu esplendor neurótico, Atlanta é um retrato semiautobiográfico de Donald Glover. Aziz Ansari foi um pouco mais longe em Master of None, a comédia do Netflix cuja segunda temporada de dez episódios estará disponível no serviço de streaming a partir de 12 de Maio. Aquele actor frustrado é ele próprio com um nome diferente (Dev).

Ansari é um actor norte-americano, nascido nos EUA, de origem indiana, e muito do que tem sido a sua carreira na comédia incorpora a sua herança asiática, desde Parks and Recreation (um empregado municipal) aos vários espectáculos de stand up (também disponíveis no Netflix). Master of None é sobre um actor trintão a tentar sobreviver em Nova Iorque, entre uma sucessão de desastres amorosos, o que quase se pode considerar um subgénero televisivo, mas Ansari dá-lhe o tal toque pessoal.

Ele é um actor que tem de lidar com a falta de papéis decentes para indianos, reduzidos nesta industria a estereótipos. (Ansari faz uma inversão do que costuma ser habitual, tem na série um amigo branco “tipo”). Master of None reflecte também muito dos gostos pessoais de Ansari, música (dos 1980s de Human League ao indie rock dos Beach House) e comida – é o desejo de aprender a cozinhar pasta que muda a acção de Nova Iorque para Itália na segunda temporada, algo que o próprio actor também fez.

O que Ansari fez resultou. Foi um sucesso de público, de crítica e ganhou muitos prémios, entre eles o Emmy para melhor série de comédia em 2016 – Ansari estava triplamente nomeado, como actor, realizador e argumentista. Para dar um toque ainda mais pessoal, Ansari escolheu os próprios pais, que nasceram na Índia e não são actores profissionais, para desempenharem os mesmos papéis na série – na vida real o pai é gastroenterologista, a mãe trabalha num consultório.

Foi pelos seus pais muçulmanos que escreveu um artigo de opinião no New York Times em Junho de 2016 sobre o então candidato presidencial Donald Trump. "Por causa de Trump e de outros como ele a cuspirem o discurso do ódio, a descriminação está a atingir outros níveis. É visceral e assustador [...]. Tenho medo pela minha família. Isto não faz sentido nenhum."

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