PCP leva jornadas parlamentares a Coimbra com dívida e saída do euro na mira
Visitas à universidade, hospitais, empresas e obras públicas paradas compõem o programa, no fim do qual a bancada vai apresentar propostas ao Parlamento.
Financiamento das universidades e hospitais, apoio bancário às pequenas empresas, conclusão de infraestruturas públicas agrícolas ou de transportes, investimento na cultura e na investigação científica e direitos dos trabalhadores são alguns dos temas em que os deputados do PCP vão mergulhar durante dois dias no distrito de Coimbra, onde realizam, hoje e amanhã, as suas jornadas parlamentares.
Mas é quase certo que dos trabalhos e reuniões de Coimbra não vão sair apenas propostas legislativas para resolver problemas da região ou de alguns sectores da economia: o PCP está a meio de uma campanha nacional, que se prolonga até Junho, pela saída de Portugal do euro e renegociação da dívida e ainda não divulgou as iniciativas legislativas sobre o assunto que vai levar à Assembleia da República.
Tendo em conta que as conclusões centrais do congresso do partido, em Dezembro, foram a necessidade de renegociar a dívida e preparar a saída de Portugal do euro, e que estas são as primeiras jornadas parlamentares desde então, o líder da bancada, João Oliveira, admite que “esse pode ser um dos assuntos a marcar de forma relevante o trabalho destes dois dias”. Será possível que seis anos depois da primeira de várias propostas do PCP chumbadas no Parlamento, venha aí mais um projecto de resolução sobre a renegociação da dívida e outro sobre o estudo para a saída da moeda única. São temas que ficaram de fora das posições conjuntas porque PCP e Governo estão em pólos opostos, mas servirão como pedras na engrenagem da maioria parlamentar - especialmente porque o Bloco também já subscreve os mesmos assuntos.
“É cada vez mais evidente a dificuldade de o país responder aos seus problemas” devido ao encargo anual com a dívida, que se estima em cerca de nove mil milhões de euros por ano, e às limitações que impõe em cada novo Orçamento do Estado, lembra João Oliveira. "Os graves problemas económicos e sociais que o país enfrenta podem ser resolvidos com medidas concretas, com uma política diferente mas que exige uma recusa dos constrangimentos que actualmente amarram o país a soluções que não só não contribuem para resolver os problemas como contam para o seu agravamento."
"O cruzamento das questões da banca, do euro e da dívida constitui um espartilho do qual, se o país não se libertar, dificilmente conseguirá assegurar o seu desenvolvimento", insiste. "Dificilmente conseguimos fazer uma política económica diferente se não tivermos os meios que hoje são canalizados para o pagamento da dívida", remata João Oliveira.
Em Coimbra, as jornadas são abertas ao meio-dia pelo secretário-geral Jerónimo de Sousa, e pelo líder parlamentar João Oliveira. A tarde está reservada para idas dos deputados a Condeixa (visita à cerâmica Dominó, sobre falta de crédito para o investimento industrial), Figueira da Foz (na Navigator Company - Soporcel, só há aumentos e melhores regalias para alguns trabalhadores), Montemor-o-Velho (visita à obra hidroagrícola do Mondego, que está por finalizar) e Coimbra (visitas aos hospitais dos Covões e Psiquiátrico Sobral Sid, sob a ameaça de fecho; encontros com o reitor e a Associação Académica de Coimbra por causa da discussão sobre a possível transformação da universidade em fundação; reuniões com associações culturais).
Amanhã de manhã, os deputados voltam à rua para uma viagem pelo ramal da Lousã (mas nos autocarros que substituíram o comboio), uma visita ao parque de biotecnologia de Cantanhede, um encontro com pescadores na Praia do Cabedelo sobre problemas da orla costeira da Figueira da Foz, uma passagem pelo estabelecimento prisional de Coimbra (sobrelotado e a precisar de obras) e uma reunião com a direcção do Instituto Politécnico de Coimbra sobre o financiamento do ensino superior. O encerramento, com a apresentação das conclusões, está marcado para as 16h, no Hotel Tivoli Coimbra.