Marcelo de visita ao país das importações portuguesas
Além de Cabo Verde, o Presidente vai também aproveitar para passar pelo Senegal, onde nunca esteve um chefe de Estado português.
Quando colocou o pé, este sábado, no solo do aeroporto Nelson Mandela, na Praia, capital de Cabo Verde (Ilha de Santiago), Marcelo Rebelo de Sousa iniciou a sua visita oficial a um país que tem a particularidade de ser aquele onde os produtos portugueses têm mais expressão.
Cabo Verde é um forte país importador e quase um em cada dois produtos que compra ao estrangeiro são de origem portuguesa. Portugal é o principal cliente, com uma quota de 25,3%, e é também o principal fornecedor, com 43,5% do total importado pelo arquipélago. Este último dado faz com que Cabo Verde seja o país onde Portugal tem a maior quota de mercado entre todos os mercados para onde exporta a nível mundial. Em segundo, a larga distância, está Angola (com cerca de 15%, segundo dados de 2015).
E há uma outra particularidade: as exportações para Cabo Verde ficaram entre as que mais cresceram no ano passado, ao subir 20,7% (Angola teve o comportamento mais negativo, ao recuar 28% face ao ano anterior). Ao todo, foram exportados bens avaliados em 256 milhões de euros, com a balança comercial a ser positiva para Portugal em 247,5 milhões. De Portugal para as dez ilhas o que domina as vendas é a maquinaria e os produtos agrícolas e alimentares, enquanto no sentido inverso surgem no topo o vestuário e o calçado.
Ao nível do investimento, no entanto, este tem pouca expressão entre os dois países, apesar da forte aposta do arquipélago no turismo (agora mais evidente na ilha do Boavista, com italianos e espanhóis a dominar).
Marcelo a fazer história
A visita de Marcelo Rebelo de Sousa surge pouco tempo após a deslocação do primeiro-ministro, no final de Fevereiro. Quando esteve no arquipélago, António Costa afirmou que ia duplicar o apoio financeiro a este país, disponibilizando 120 milhões de euros. Por outro lado, e na sequência de um encontro com o seu homólogo cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, afirmou, citado pela Lusa, que estava a analisar uma proposta de Cabo Verde sobre o pagamento da dívida de 200 milhões de euros (que começa a vencer em 2021, mas que o Estado cabo-verdiano quer que seja perdoada ou renegociada).
A visita do Presidente da República a Cabo Verde inclui passagens pelas ilhas de Santiago, São Vicente e Fogo. "Trata-se de uma visita com uma forte componente político-diplomática, para consolidação dos laços com um dos países prioritários da política externa portuguesa e reforço deste relacionamento no futuro", lia-se na nota divulgada pela Presidência da República.
"Será dado particular relevo às componentes educativa e da investigação académica, áreas em que os dois países têm apostado fortemente no âmbito do seu relacionamento bilateral, por serem especialmente importantes para as camadas mais jovens do povo português e cabo-verdiano. As vertentes económica e de cooperação na área da defesa farão igualmente parte da agenda", acrescentava a nota.
Marcelo vai também aproveitar para passar pelo Senegal, onde nunca esteve um Presidente português. Na sexta-feira, a agência Lusa destacava que este país tem “uma importância acrescida na vida política e económica da Guiné-Bissau por ser lá que é decidido quase tudo sobre a vida dos guineenses”.
Esta parte da visita incluirá uma passagem pela Ilha de Gorée, aonde os portugueses chegaram em 1444 e que foi um interposto do tráfico de escravos até ao século XIX. Aí visitará a "Casa dos Escravos", um memorial da escravatura. Foi neste lugar que o papa João Paulo II, em Fevereiro 1992, declarou: "A partir deste santuário africano do sofrimento negro, imploramos o perdão do céu". Em Abril de 2005, o então Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, também visitou Gorée e repetiu esse gesto. Com Lusa