Zuma pede "calma" quando se multiplicam apelos para a sua demissão
Presidente sul-africano criticado por afastamento do do ministro das Finanças que levou agências de rating a baixarem a classificação do país
A atmosfera na África do Sul está a fervilhar, diz o correspondente do diário francês Le Monde. Antecipa-se uma mudança que, diz pelo seu lado o britânico The Guardian, se acontecer, será com estrondo. A razão é a crescente insatisfação com o Presidente Jacob Zuma – que vem da oposição mas também de estruturas fundamentais de apoio, como o grande sindicato ligado ao seu partido Congresso Nacional Africano (ANC, em inglês), que está dividido.
A razão mais imediata para isto aconteceu na semana passada, quando Zuma fez uma remodelação governamental afastando vários ministros, incluindo o respeitado titular da pasta das Finanças, Pravin Gordhan. Isto deixou descontentes vários membros importantes do ANC, o partido no poder ininterruptamente desde 1994 (com Zuma como Presidente desde 2009). E levou a uma descida na avaliação da África do Sul pelas agências de rating – foi mesmo a primeira vez que a Standard & Poor’s desceu o país na classificação desde o ano 2000, nota a agência noticiosa Reuters.
O Cosato, o maior sindicato do país, reagiu pedindo esta terça-feira a demissão de Zuma. “Pensamos que chegou a altura de se demitir e permitir que o país seja liderado por um novo colectivo a nível de Governo”, diz o comunicado do sindicato citado pelo jornal sul-africano Daily Maverick. “Já não acreditamos nas suas capacidades de liderança.”
A mais recente remodelação, diz ainda o sindicato, “não teve como base o mérito mas sim a lealdade política”.
Zuma falou pela primeira vez desde a remodelação pedindo “calma”. “Garantimos que enquanto a liderança política mudou, a orientação política do Governo mantém-se, derivada do partido no Governo, o Congresso Nacional Africano”, declarou, citado pela agência Reuters. “Esperamos que as mudanças tragam energia renovada ao Governo como um todo.”
Segundo o diário britânico The Guardian, há muita especulação sobre as razões da acção de Zuma, que passará o testemunho provavelmente no próximo ano para um líder que disputará as próximas eleições, em 2019: quer deixar um sucessor (ou uma sucessora, fala-se de uma das suas actuais ou anteriores mulheres) para assegurar que não é investigado por corrupção quando sair do cargo; quer controlar o ministério para poder ter acordos que favoreçam aliados, ou simplesmente começar políticas populistas mas economicamente insustentáveis para reverter o declínio eleitoral do partido.
O novo responsável pela pasta, Malusi Gigaba, é descrito como “um lealista com pouca experiência em economia ou negócios”. Com 45 anos, fala da “batalha” para “voltar a ganhar o controlo da economia”.
A oposição, pelo seu lado, reagiu unida pedindo a demissão de Zuma. O Cosato sublinhou, na sua crítica ao Presidente, que esta não se estendia ao ANC. Este parecia dividido, com o conselho das seis figuras mais importantes a divergir entre o apoio e a crítica à remodelação governamental de Zuma.
A saída de cena do Presidente sul-africano é certa, no máximo, dentro de um ano e pouco, diz o diário The Guardian. “A questão é que ANC, e que África do Sul, deixa para trás”.