Menos assaltos a bancos, mas o dobro dos crimes de sabotagem informática

Relatório Anual de Segurança Interna dá conta da descida dos homicídios e das violações em 2016. Assaltos a máquinas multibanco e violência escolar aumentaram.

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Criminalidade violenta e grave desceu 11,6% Paulo Pimenta

Apesar da descida, em 2016, das taxas da criminalidade, que já tinha sido anunciada pelo Governo, a sabotagem informática, os assaltos às máquinas multibanco e a extorsão dispararam.

Os dados constam do Relatório Anual de Segurança Interna, entregue esta sexta-feira no Parlamento e segundo o qual houve, no ano passado, menos homicídios voluntários, menos violações e menos abusos sexuais de menores em relação a 2015.

Como a ministra da Administração Interna já havia revelado na primeira semana de Março, no que respeita à criminalidade violenta e grave o número de queixas desceu 11,6%, enquanto a criminalidade geral sofreu uma redução de 7,1%. E se a delinquência juvenil acompanha e ultrapassa mesmo esta tendência, com menos 481 ocorrências do que no ano transacto, o que equivale a um decréscimo da ordem de quase 23%, os números disponíveis mostram, por outro lado, um aumento de 6,2% das ocorrências em ambiente escolar — sejam eles os roubos, o bullying ou o pequeno tráfico de droga junto aos estabelecimentos de ensino e mesmo no seu interior. Durante o ano lectivo de 2015

2016 PSP e GNR registaram mais de 7500 ocorrências nas escolas ou nas suas imediações, 63% das quais de natureza criminal, com uma distribuição geográfica semelhante aos delitos que envolvem apenas adultos: uma grande concentração em Lisboa e no Porto, cidades a que se segue Setúbal.

E se em Lisboa mas sobretudo no Porto se verificou, apesar de tudo, um decréscimo da criminalidade violenta e grave, distritos houve que, apesar de não apresentarem um número tão elevado de participações às autoridades, registaram subidas significativas por comparação com 2015: Beja e Faro.

Terrorismo preocupa

Foi nos distritos de Lisboa e do Porto, juntamente com os de Leiria e Setúbal, que houve mais roubos de máquinas multibanco. Embora o relatório não diga quantos assaltos se registaram às ATM, dá nota de mais 46 ocorrências do que no ano transacto, o que corresponde a mais 64,8% crimes deste género. Em 2016 foram 117 os ataques aos multibancos.

Ainda no que aos delitos violentos e graves concerne, enquanto os roubos por esticão, a bancos e a farmácias parecem estar a ficar fora de moda, tal como o furto de metais não preciosos, já a extorsão (chantagem, por exemplo) está a ganhar novos adeptos. Assim, no ano passado houve menos 59 roubos a farmácias, menos 25 a bancos e menos 1393 roubos por esticão, mas mais 168 casos de extorsão — o que equivale a um acréscimo deste último crime da ordem dos 53,7%. Registaram-se ainda menos 26 homicídios voluntários (tinham sido 102 em 2015), menos 40 violações (375 era o número de queixas do ano transacto) e menos abusos sexuais de menores — crime pelo qual foram detidas 122 pessoas em 2016.

PÚBLICO -
Aumentar

O crime de sabotagem informática foi, porém, o que mais cresceu: nada menos de 147,4%, tendo passado de 76 queixas em 2015 para mais do dobro (188) no ano passado. O relatório destaca também um aumento de 36% dos crimes de pornografia de menores. O ciberataques está sobretudo ligado às fraudes com cartões de crédito.

Já o capítulo dedicado às ameaças globais à segurança, como é o caso do terrorismo, refere ser no espaço cibernético que se trava “uma intensa batalha entre vários países com pretensões globais ou regionais para a recolha de informações políticas, económicas e militares e para a manipulação da opinião pública e dos decisores políticos através de desinformação e propaganda”. Por isso, a ameaça do terrorismo jihadista “continuou a ser alvo de permanente monitorização”. Os apelos aos extremistas europeus, incluindo os portugueses, vindos da máquina de propaganda do autoproclamado Estado Islâmico preocupam os responsáveis pela segurança interna, que dizem que esta organização se tem “configurado como o principal agente da deterioração securitária”.

Sem nunca referir o caso dos dois marroquinos que residiam em Aveiro, ambos presos por suspeitas de terrorismo, embora praticado fora do país, o documento considera que a emergência de situações análogas pode contribuir “para uma alteração do padrão da ameaça terrorista que impende” sobre Portugal.

Factor de preocupação acrescida é a permanência de um grupo de portugueses na região de conflito sírio-iraquiana, com ligações também ao Estado Islâmico, “sobretudo pelos riscos associados ao seu potencial regresso a Portugal ou a outro país europeu.”     

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